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“A Figura do Mês” - Carlos Avelar: “Sinto-me integrado na grande Família que é o CNH”

Há anos que Carlos Avelar passa as suas férias no Faial, colaborando com o CNH

É conhecido e respeitado por todos, revelando ser educado, simpático e muito prestável. Por isso, quando convidado a conversar com a jornalista do Gabinete de Imprensa do Clube Naval da Horta (CNH) não questionou sequer a finalidade da prosa, manifestando total disponibilidade e grande à vontade, numa atitude genuína, característica de quem está entre família.

Falamos de Carlos Avelar, uma cara bem conhecida no CNH sendo presença habitual por altura do Verão. “Há 3 anos que estou ligado ao CNH pela amizade que me une ao Presidente da Direcção, José Decq Mota, que já era amigo de minha mãe e a verdade é que as pessoas boas não esquecemos. Por norma, tenho férias em Agosto e sempre que ele me convida para eu dar uma ajuda, faço-o com muito gosto, pois sinto-me bem neste ambiente e com estas pessoas”.

Embora tenha nascido no Faial – de onde saiu com 3/4 anos – e a família do lado do pai seja de cá – a verdade é que Carlos Avelar é sempre visto como florentino, sentindo-se como tal. “Quando estou no Faial dizem-me “Ó Flores” e embora considere que a minha terra é a ilha das Flores, onde vivo, trabalho e me realizo, tenho um carinho especial pelo Faial, ilha a que sempre estive ligado, onde tenho casa, ponderando mesmo vir a ser o local onde deverei passar a minha reforma”.

Este amante do mar é funcionário da “Portos dos Açores, S.A.”, sendo o Responsável pelos Portos das Lajes e Santa Cruz, nas Flores, e pelo Porto da Casa, no Corvo. Mas não é esse facto que o leva a encarar o mar com paixão, o que acontece desde pequeno.

“Tinha um vizinho que era trancador e eu quando criança fugia sempre para o porto atrás dos baleeiros. Aliás, três dos meus vizinhos estavam envolvidos na caça à baleia: um era marinheiro de bote, o outro era Mestre e o terceiro era trancador. Como acompanhava de muito perto estes homens, com 8/9 anos já tinha a noção do perigo que a caça à baleia implicava e das necessidades económicas daquelas famílias. Mas, ao mesmo tempo, deleitava-me com a beleza daquele movimento, o que era um fenómeno para uma criança das Flores há mais de 40 anos.

carlos avelar 2 2018

“A minha terra é as Flores mas sinto um carinho especial pelo Faial”

Mesmo a caminho da escola, passava sempre pelo porto. Gostava de ver os homens a amarrar as lanchas e a vará-las quando anunciavam mau tempo. Era um fascínio ficar a olhar para o mar bravo! E então quando nos deixavam ajudar a trazer os barcos, era algo que nos fazia crescer de orgulho. Era um quotidiano interessante e com piada. 

As lanchas – a maior embarcação daquele tempo – eram lavadas, arrumadas e estimadas. Eram autênticas relíquias! O aprumo com que eram tratadas as lanchas da baleia saltava à vista. E estavam sempre prontas a serem rapidamente arreadas.

Tinha um avô que gostava de ir para a vigia e era amigo de todos os vigias da baleia. Falo dele com grande emoção, pois sempre foi uma pessoa muito especial para mim.

Os velhos sentavam-se numa pedra e contavam-nos as suas histórias, que escutávamos com toda a atenção, porque nos despertavam interesse. Lembro-me que estes homens do mar faziam um bote ou uma lancha em madeira e ofereciam às crianças – incluindo a mim – com que brincavam. Vem daí esta minha admiração por este legado.

Tenho muitas saudades desse tempo!... Sinto que os jovens eram muito mais felizes e livres, e aprendiam coisas para a vida”.

carlos avelar 3 2018

“Dei o mote para que se recuperasse este património baleeiro nas Flores, porque é algo a que estou ligado desde pequeno”

Com este passado que nunca arrefeceu na alma de um admirador confesso dos homens da faina, não é pois de admirar que Carlos Avelar esteja ligado ao Clube Naval das Lajes das Flores (fundado em 1984) desde o ano de 2000, tendo sido o mentor da recuperação do património baleeiro da ilha. De 2011 a 2015 presidiu aos destinos desta instituição náutica e daí até hoje tem desempenhado o cargo de Vice-Presidente. “Em 2011 assumi a presidência do Clube Naval das Lajes e com a Câmara fizemos a recuperação do primeiro bote, que era pertença da autarquia. Diga-se, em abono da verdade, que este bote foi reconstruído (obra a cargo de João Tavares, das Ribeiras do Pico) tendo sido recuperado um segundo, com um grande investimento por parte da Câmara. No entanto, o Clube também assumiu parte desse encargo, o que representou um empréstimo no valor de 30 mil euros, contraído por 6 pessoas, onde me incluia.

Dei o mote para que se recuperasse este património, porque é algo a que estou ligado desde pequeno. Existindo uma Marina, um porto acostável e o porto de pescas que era o original do meu tempo de criança, sentia pena em que não se fizesse nada neste sentido. Estamos a falar dos botes “Formosa” – cedência de uma matrícula das Ribeiras do Pico – e do “São Pedro”. Lembro-me de com 18 anos ainda ver 4 lanchas a navegar. Este património pertencia à armação baleeira “Maurício António Fraga”, uma sociedade com vários sócios, que vendeu tudo em 1978/1979”.

O Clube Naval das Lajes das Flores tem activas as Secções de Botes Baleeiros e Vela Ligeira, bem como a formação em Náutica de Recreio, sendo ministrados “muitos cursos”. No passado também funcionou a Secção de Mergulho. “Temos a actividade possível mas obviamente que em nada se compara com o que se verifica no Clube Naval da Horta”, sublinha o Vice-Presidente do Clube Naval das Lajes das Flores.

“É uma honra poder tocar na “Walkiria”

carlos avelar 4 2018

“A “Walkiria” tem uma elegância ímpar” 

É sempre com grande entusiasmo que Carlos Avelar regressa ao Clube Naval da Horta ano após ano, substituindo Vítor Mota no cargo de Mestre da “Rainha dos Mares dos Açores”. “É uma honra poder tocar na “Walkiria”. Considero que é preciso ser cioso desta lancha, cujo nome ficou sempre no ouvido. Sempre me lembro de ver filmes da caça à baleia no Faial e de ver a “Isolda”, a “Maria da Conceição” e o “Cetáceo”.

Existem muitas lanchas nas várias ilhas, mas a “Walkiria” tem uma elegância diferente, ímpar, diria mesmo. 

Para mim, ser Mestre é como ser pai, pois estamos a falar daquele que cuida, trata, zela, vivendo o dia-a-dia de parelha. Como tal, considero-me um Auxiliar do grande Mestre que é o Vítor Mota.

Comecei a conhecê-lo de vista antes de sermos amigos, uma realidade há cerca de 5 anos. Inicialmente acompanhava-o aqui, no CNH. Observava quem mexia e como mexia na “Walkiria” e não só. E percebe-se quem gosta das coisas.

Fiquei muito sensibilizado com a atitude humilde e amiga que ele teve no decorrer da procissão de Nossa Senhora da Guia, neste ano de 2018, em que fez questão que eu fosse o Mestre da “Walkiria”. Isto demonstra bem o carácter deste homem. Nunca me vou esquecer desse gesto, que para mim quis dizer muito. Teve um grande significado!

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Carlos Avelar: “Considero-me um Auxiliar do grande Mestre que é o Vítor Mota”

Percebo que tanto o Mestre Vítor Mota como o Presidente José Decq Mota têm confiança em mim para andar com a “Walkiria”, mas sinto responsabilidade quando ando com ela, com os botes amarrados e com pessoas envolvidas. E quem anda no mar está sempre sujeito a imprevistos. Ter a “Raínha dos Mares dos Açores” nas mãos e não a entregar tal como a recebi, é algo impensável para mim. Trata-se de um património valioso que o CNH tem.

Noto que há uma confiança mútua entre toda a família baleeira do Faial e sinto-me integrado nesta Secção e na grande Família que é o Clube Naval da Horta.

Defendo sempre que todos os que estamos envolvidos na baleação somos diferentes. Os homens que gerem e utilizam o Património Baleeiro são uma classe mais específica e mais especial, pois, para além de gostarmos de praticar aquilo, que agora não passa de um desporto, e de nos divertirmos, todos temos a responsabilidade de preservar este património. E o esforço que se faz para manter este património a navegar, é enorme! Depois, há ainda a responsabilidade de quem representamos, ou seja, o legado que está inerente. No nosso sub-consciente vivem sempre as histórias dos antepassados, aquelas que nos contaram e as que presenciámos. Sabemos quem e o que estamos a representar e muitos desse homens valentes, destemidos, verdadeiros heróis, agora já velhinhos, encontram-se em cima do calhau a ver-nos, a nós, que somos os baleeiros dos novos tempos. Temos uma missão e uma responsabilidade muito grandes!

Sermos diferentes de todos e termos paixão pelo que fazemos é o que define todos aqueles que fazem parte dos Botes Baleeiros.

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Vítor Mota e Carlos Avelar: uma amizade que tem como base o Clube Naval da Horta, a baleação e a famosa “Walkiria”

Já participei como Tripulante e como Oficial em Regatas de Botes Baleeiros realizadas com botes das Flores lá na ilha, mas também no Faial e no Pico. Gosto muito de andar nestas embarcações, mas fico muito contente por ver que há imensa gente nova que vai no bote. É importante que os mais jovens se envolvam.

É fundamental saber dar espaço aos outros e quando vemos que estão a assumir a responsabilidade e a paixão pelo legado que vão recebendo, devemos descer a escada orgulhosos, porque outros a vão subindo imbuídos desse espírito que conseguimos transmitir. Sinto-me realizado! É verdade que esta missão nos cansa fisicamente, aliada à responsabilidade que assumimos, mas compensa.

Sinto-me extremamente feliz por dois botes das Flores terem participado na Regata deste ano da Casa do Pessoal da RTP, no penúltimo dia do Festival Náutico, e de ter havido tripulações, sinal de que os novos estão a envolver-se a sério!”

“Não é todos os dias que se está na frente de um dinossauro como o José”

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Carlos Avelar: “Há que sentir respeito quando estamos na frente do José”

Quando instado a pronunciar-se sobre a figura máxima do Clube Naval da Horta, Carlos Avelar realça a amizade que sobressai e frisa: “Há que sentir respeito quando estamos na frente do José (Decq Mota) e isso significa homenageá-lo, entendê-lo.

Não é todos os dias que se está na frente de um dinossauro, de um histórico como ele.

É importante colaborarmos e darmos o nosso melhor. O José sabe parar e ouvir. Pode até parecer que não, mas no dia a seguir percebemos que ficou tudo lá registado no computador dele”.

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