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Projecto “School at Sea”: “Esta é uma viagem para quem gosta do mar”

“Se voltasse atrás, fazia tudo igual”

“O tempo passou depressa demais. Parece que foi um sonho e ainda não alcancei a realidade”. Mariana Rosa, velejadora do Clube Naval da Horta (CNH), não acredita que já passaram 6 meses desde que embarcou no “Thalassa” para uma viagem de grande aprendizagem no âmbito do “School at Sea”, Projecto holandês destinado a alunos de todo o mundo, do ensino secundário, com idades compreendidas entre os 14 e os 17 anos de idade. Foi a 21 de Outubro de 2017 que começou esta epopeia, na Holanda, (porto de Ijmuiden), onde terminou no dia 21 de Abril último.

A prioridade agora é a Escola, pois, ainda que tenha acompanhado o programa curricular e feito os mesmos testes que os colegas de turma (10º ano), a verdade é que os resultados obtidos não contam para nota. Como tal, a aluna já começou a enfrentar uma maratona de testes, o que está a ser bastante exigente.

Embora houvesse um Coordenador Pedagógico a bordo e professores para esclarecerem dúvidas, a verdade é que as matérias do currículo escolar holandês são diferentes das nossas, com a particularidade de o aluno ter cada cadeira com uma turma diferente. Apesar das dificuldades sentidas e do esforço acrescido, Mariana tem intenções de concluir o ano com aproveitamento.

Mesmo que ainda não saiba a carreira que quer seguir – encontra-se na área de Ciências, na Escola Secundária Manuel de Arriaga (ESMA), da Horta – há uma certeza: “será sempre algo relacionado com o mar”.

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“Sei que quero seguir uma profissão relacionada com o mar”

“O holandês é difícil”

Pelo menos no que toca à disciplina de Inglês, Mariana sabe que a situação está controlada, pois, esta aventura marítima contribuiu, “e  muito”, para o desenvolvimento dessa língua, escrita e falada.

Recorde-se que Mariana Rosa e Miriam Pinto, eram as únicas portuguesas num universo de 32 holandeses, que, embora comunicassem em inglês com estas estrangeiras, como estavam em maioria, falavam sempre em holandês entre si. A solução foi aprender holandês e a faialense confessa que “é difícil”, apesar de dizer o mesmo relativamente ao português.

Graças a esta adaptação bastante esforçada, a língua não constituiu um entrave e a nossa entrevistada só lamenta agora o facto de não poder praticar, o que vai ser sinónimo de esquecer. Em contrapartida, o idioma de Camões foi pouco aprendido por parte do grupo, o que só aconteceu, vagamente, quando os holandeses tinham as portuguesas no seu grupo.

É claro que, volvidos 180 dias de convívio, o mais difícil de deixar foram as pessoas, ou seja, os novos amigos, e Mariana assevera que “algumas destas amizades são para manter”.

Referindo-se ao carácter dos holandeses, considera-os “sérios”, que é como quem diz “levam as coisas demasiado a peito”. Contudo, esta definição parece aplicar-se só aos mais novos, já que os adultos – pelo menos os da tripulação do “Thalassa” – eram “bem divertidos”.

Mas antes desta descontracção acontecer, houve um período de adaptação à vida a bordo, marcado pelo frio que se fazia sentir e pelas saudades de casa. “As camas não eram más” (havia quartos para dois, três e até para quatro pessoas), a barreira linguística foi orgulhosamente ultrapassada e a comida foi o possível, atendendo a que os alunos eram os próprios cozinheiros. Assim sendo, não é de estranhar que a massa e o pão tenham sido grandes companheiros nesta jornada.

A amiga que Mariana já levava do Faial era Miriam, a colega de Escola. “Foi muito bom para ambas termos ido juntas, pois apoiámo-nos”.

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“Eu e a Miriam apoiámo-nos mutuamente”

“Esta não é uma viagem para qualquer pessoa”

Mariana admite as (naturais) saudades, mas adianta que não foram fortes o suficiente para regressar a casa antecipadamente, pois, se o fizesse, sabia que iria arrepender-se. Afirma que “se voltasse atrás fazia tudo igual” e aconselha outros jovens a concretizarem este sonho.

Sem dúvida que a angariação do montante necessário (cerca de 25 mil euros) é a parte “mais difícil” materialmente falando, mas, tão importante quanto isso, é “ser uma pessoa aberta e divertida e que esteja com disposição para ir para um sítio diferente”. Sim, porque, definitivamente “esta não é uma viagem para qualquer pessoa. É preciso gostar de mar, mas não é necessário ser marinheiro, já que na primeira semana o pessoal da tripulação ensinou as noções básicas para aprendermos a manobrar o barco, “e havia muitas pessoas que nunca tinham posto os pés num barco. No entanto, é fundamental ter a consciência se queremos ou não embarcar neste projecto, que implica muito trabalho (preparação) antes e durante”.

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Mariana esteve à altura das responsabilidades que o capitão lhe incumbiu

Naturalmente que o facto de Mariana Rosa ser uma velejadora com provas dadas ajudou imenso e isso foi notado pelo capitão que, algumas vezes chamou a velejadora do CNH para comandar o “Thalassa”. Prova de que os ensinamentos do Treinador Duarte Araújo e de outros anteriores a ele, deram frutos, mas com o mérito da aluna, sem dúvida, que se empenhou em estar à altura da responsabilidade.

E, a propósito, refira-se que Mariana manteve sempre contacto com os colegas velejadores e o Treinador, “permanentemente interessados e atentos” ao desenrolar desta aventura.

“A viagem da minha vida”

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“Adorei a viagem! Mas explicar por palavras torna-se difícil. Só vivendo!”

Quando perguntamos a Mariana como decorreu a viagem, ela responde sorridente: “Bem!” Mas como sabe que esta é uma resposta demasiado telegráfica para uma jornalista, continua à procura das palavras que façam juz ao que sente e que satisfaçam quem está do outro lado: “Adorei a viagem! Mas explicar por palavras torna-se difícil. Só vivendo!”

Após esta experiência tão intensa e absorvente, Mariana garante que é possível viver sem estar agarrada ao telemóvel. “Lá, não precisava do telemóvel para nada. Tínhamos o ‘mail’ semanal e sempre que nos davam oportunidade para falarmos com a família, obviamente que aproveitava, mas não havia esta dependência constante do telefone. E ainda bem, porque caso contrário não ia ser a mesma coisa. O telemóvel ia distrair muito e então no início da viagem íamos estar sempre agarrados a ele, interferindo com a união do grupo. Além das pessoas (família e amigos) não senti falta de nada!

Até mesmo o Natal foi uma quadra fácil de celebrar fora de casa. As expedições – onde passei muito frio – permitiram-nos aprender muitas coisas e vermos ‘in loco’ modos de vida completamente diferentes daqueles a que estamos habituados, como por exemplo, em Cabo Verde e Dominica, onde havia pobreza e miséria e as marcas de destruição da passagem do furacão.

Esta jovem diz que se sente a mesma pessoa, mas quando a confrontamos com alguns aspectos concorda que está “mais adulta e responsável”. E se dúvidas houvesse sobre a proximidade que ganhou com este grupo, ficariam agora dissipadas: “O que mais destaco é o apoio que dávamos uns aos outros, pois estávamos habituados a viver em conjunto”.

Holandeses muito bem impressionados com o Faial

Um dos pontos de paragem do “Thalassa” foi a ilha do Faial – no fim de Março, princípio de Abril – tendo os pais de Mariana e Miriam organizado um programa de recepção à comitiva. “Eles adoraram o Faial e foram muito bem impressionados com tudo o que viram, ouviram, comeram... Foram super-bem acolhidos e salientaram o facto de a ilha ser muito verde, permitindo o contacto com a natureza. Por isso, alguns afirmaram que gostavam de morar aqui.

Gostei de ter passado por casa e ainda bem que foi na recta final da viagem, pois, se fosse antes, sei que ia ficar com mais saudades”.

“Obrigada a todos os que me apoiaram”

Mariana Rosa também deu o corpo ao manifesto na angariação de fundos para esta experiência, mas sem os pais e os avós – que ajudaram a todos os níveis – nada disto teria sido possível. Sem qualquer desmerecimento para a mãe (Susana Rosa) aqui, é de máxima justeza fazer uma ressalva ao papel do pai da velejadora – Fernando Rosa – que, sendo, também, velejador, desde sempre foi a pessoa que mais incentivou a filha.

Quando Mariana chegou ao Faial, no fim do mês passado, e se apresentou na Escola, muitos foram os que manifestaram curiosidade em saber como tinha decorrido este percurso, mas “a cadeira mais espectacular” foi a de Inglês, em que o professor Victor Rui Dores organizou uma recepção à aluna, que passou a aula a responder a imensas questões colocadas pelos colegas.

Na hora de fazer agradecimentos, a velejadora refere, em primeiro lugar, a família e amigos, o Clube Naval da Horta por todo o apoio na divulgação e recepção à comitiva no Faial, patrocinadores e, também, a Escola, nomeadamente a professora Regina Dores, que foi a intermediária entre a ESMA e o Coordenador Pedagógico do “School at Sea” deste ano lectivo de 2017/2018.

Trajecto

Mariana saiu do Faial e viajou até Lisboa. De lá, embarcou rumo à Holanda, tendo feito paragens em Espanha (Corunha); Portugal (Porto Santo, na Madeira); novamente Espanha (Tenerife, nas Canárias); Cabo Verde (São Vicente); Dominica; Martinica; Santa Lúcia; Curaçao; Panamá (San Blas, Portobelo e Bocas del Toro); Cuba; Bermudas; Faial (Açores); novamente Corunha, com términus na Holanda.

A velejadora passa agora a figurar na galeria dos faialenses – e velejadores do CNH – que podem orgulhar-se de ter integrado o Projecto da Fundação “School at Sea”: Júlia Vieira Branco, Bartolomeu Ribeiro, Emília Vieira Branco, Carolina Salema e Jorge Medeiros.

Além disso, parte já com a vantagem de ter uma história fantástica – vivida na primeira pessoa – para desvendar aos filhos e aos netos, que hão-de fazer parte dessa prole numerosa que espera vir a ter.

Fotografias cedidas por: Susana Rosa

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