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Velejadores do Clube Naval da Horta, que participaram na 1ª Concentração de Natal Optimist, na Base Naval de Lisboa, partilham as suas experiências


Mariana Luís, Jorge Pires, Rita Branco e Tomás Pó: espírito de equipa dentro e fora da água

Tomás Pó, Jorge Pires, Rita Branco e Mariana Luís, foram os 4 atletas da Escola de Vela do Clube Naval da Horta (CNH) que participaram na 1ª Concentração de Natal Optimist, que decorreu de 19 a 23 de Dezembro último, na Escola de Fuzileiros, na Base Naval de Lisboa, em Almada. Foi com grande entusiasmo que acederam partilhar as experiências vividas, com a ressalva de que foram muito bem recebidos e que todos repetiam o Estágio.

Tomás Pó:


Tomás Pó: “Tinha sempre como objectivo ver aquilo em que estava a errar para melhorar no dia seguinte”

“O Estágio foi puxado a nível físico, mas já íamos com essa expectativa.

No primeiro dia acordámos às 6h30 e no segundo às 7 da manhã. Mas nos últimos dois dias o despertar foi às 3h30 da manhã para fazermos flexões e corrida. Era mesmo espírito de tropa. As raparigas faziam abdominais e corrida. Ao fim do dia, sentíamo-nos cansados, mas como o recolher obrigatório era às 22 horas, tínhamos tempo de recuperar para o dia seguinte. Naturalmente que ia havendo um desgaste físico dia após dia, mas foi muito bom.

Para dar um exemplo do plano diário, posso dizer que no primeiro dia acordámos às 6h30 para uma corrida de oxigenação, ou seja, crosse matinal. Às 7h20 tomámos o pequeno-almoço, seguindo-se um briefing, preparação física e almoço. A seguir tínhamos de nos equipar rapidamente e aparelhar os barcos para irmos para a água treinar. Após o treino de rio, havia 1h30 de natação. Terminada a piscina, íamos jantar, terminando as actividades com um briefing para o dia seguinte.

Dentro da Base, os locais ficam todos muito longe e tínhamos de ir a pé, com a condicionante do frio. Estava muito frio! A água também estava muito fria. São situações a que não estamos habituados.

Dividiram a frota em dois grupos: o de pré-competição e o de competição. Fiquei no grupo de competição e os meus três colegas do Clube Naval da Horta ficaram no de pré-competição. A selecção foi feita pelo conhecimento que há do nosso desempenho no Campeonato Nacional. Como tal, treinei com o campeão e o vice-campeão nacionais. O treino deles é muito exigente. Se eles alcançam estes resultados é porque aquilo ali é mesmo a sério, não havendo espaço para distracções. Aprende-se muito nestas condições.

O meu objectivo era comparar o meu andamento com a elite de Portugal. Uma das minhas lacunas são as largadas. Por isso, tenho de treinar muito. Neste Estágio, como a frota era grande e com um nível de exigência muito maior do que aquele a que estou habituado, tudo isso me ajudou a superar as falhas que eu tenho neste campo (largadas).

Sinto que todos nós evoluímos muito! No entanto, considero que ainda estou atrás do grupo em que trabalhei, mas este Estágio permitiu-me ter a noção do que preciso de melhorar para integrar a frota de ouro. Portanto, agora tenho mesmo de levar isto a sério, pois basta uma pequena distracção para deitar muita coisa a perder.

No Faial, distraio-me com os outros velejadores, mas consigo recuperar. No Estágio, se falhasse um bocadinho, ficava logo em último lugar, tendo em conta que se tratava de uma frota grande com um nível de exigência maior em competição.

Tinha sempre como objectivo ver aquilo em que estava a errar para melhorar no dia seguinte. E nesse sentido, as filmagens que faziam dos treinos e que mostravam nos briefings foi uma grande ajuda. Mostravam-nos o que fazíamos de mal precisamente para corrigirmos. Comparei sempre erros e andamentos para perceber o que tinha de ser melhorado no sentido de obter uma boa classificação no Nacional, que terá lugar nas férias da Páscoa, na ilha do Faial. Este Estágio funcionou como uma preparação para esse evento tão importante, em que temos de jogar com o factor casa. Temos de aproveitar muito bem o privilégio de jogar em casa.

Na Escola de Fuzileiros havia muitas regras a cumprir, incluindo hora certa para telefonarmos aos pais. Ali vive-se mesmo em regime e então com o frio, é duro. Gostava de ir passar lá umas férias, mas no Verão.

No Faial treinamos com todos os ventos, dos 0 aos 30 nós, um factor que nos ajuda a estar preparados para outro tipo de situação.

Lá, havia pouco vento, muita corrente, onda picada, o que fazia com que tivesse de levar o barco com a máxima velocidade. Habituar-me à corrente foi o meu maior desafio, mas consegui. As conversas que tive com os velejadores de outros Clubes ajudaram-me a ultrapassar esse factor. Têm de ir muito concentrados, o que os leva a ganhar. Eles treinam em condições difíceis, portanto, adaptam-se ao difícil!

Eu até gostei de treinar no rio, porque deu para ver que é preciso muita atenção. Este Estágio permitiu-me ter essa disciplina, que me vai ajudar muito no futuro.

Mar e rio são dois campos de regata completamente diferentes, mas que se ajustam um ao outro.

Ao contrário do que se passa a nível nacional, em que os atletas treinam o físico fora da água, no Faial isso não acontece, porque estamos habituados a velejar com muito vento.

Desde o fim de 2014 que achei por bem começar a trabalhar o físico fora da água e comecei a fazer um bocadinho de máquina. E agora já me sinto mais à vontade a trabalhar e melhorar a onda, o que pode fazer toda a diferença na competição.

Eu e o Jorge Pires começámos a fazer treinos de resistência física. Como tal, vamos aquecer, dando uma corridinha na Marina. Estou sempre a puxar pelo grupo, porque assim motivamo-nos uns aos outros. O Duarte (Treinador) outro dia foi comigo fazer a Avenida. Eu ia a correr e ele, de bicicleta, ia-me dando instruções, sempre de cronómetro em punho. Melhorar a resistência é muito importante para aguentar a forma durante um Campeonato ou um Estágio, pois em vez de o velejador começar a ir-se abaixo logo nos primeiros dias, consegue manter-se até ao fim, o que é determinante para o resultado final. Melhorar os tais erros faz toda a diferença em competição.

Esta iniciativa teve também um outro lado muito positivo, que tem a ver com as novas amizades que fiz. Foi nestes momentos de socialização que consegui algumas dicas fundamentais, como saber o horário das marés, o comportamento em rio, quantas horas treinam por dia e outras informações importantes para quem não é do meio. É verdade que alguns velejadores me disseram que treinam apenas um dia por semana, mas esse dia é totalmente passado no mar, onde é feito o almoço, o que pode representar mais horas de treino do que quem treina vários dias por semana, pouco tempo. O tempo é aproveitado ao máximo, não havendo espaço para falhas.

Foi muito interessante poder ouvir as experiências de quem já participou em Campeonatos do Mundo e da Europa. Também se aprende nestes momentos”.

Mariana Luís:


Mariana Luís: “Se tiver uma nova oportunidade de participar numa iniciativa destas, sem dúvida que o vou fazer, pois consegue-se aprender novas técnicas e melhorar o que já sabemos”

“O Estágio correu muito bem e constituiu uma experiência nova para mim.

Não considero que tenha sido muito puxado em termos físicos. No entanto, devo dizer que os rapazes fizeram mais esforço do que as raparigas, porque tiveram alguns exercícios diferentes. Mas na água, foi tudo em pé de igualdade.

Estava à espera de que fosse mais complicado gerir os dias, tendo em conta que estávamos a ser treinados pelos militares.

Mesmo sem termos o nosso Treinador (Duarte Araújo) por perto, fomos muito bem acolhidos pelo grupo, predominando o espírito de equipa não só no mar, mas nas camaratas e no trabalho físico de treino. Apoiámo-nos uns aos outros.

No início foi um pouco difícil nos orientarmos porque não sabíamos bem como agir, mas com o apoio dos Treinadores Gonçalo Boto e Pedro Bolina conseguimos estabilizar rapidamente.

Se tiver uma nova oportunidade de participar numa iniciativa destas, sem dúvida que o vou fazer, pois consegue-se aprender novas técnicas e melhorar o que já sabemos.

Estou habituada a treinar em mar, onde temos onda e pouca maré. No rio, há mais maré, mas a água é mais chão. No entanto, entendo que é bom treinarmos em ambientes diferentes e que ter conhecimento de dois campos diferentes é importante para o Nacional e não só.

Houve também espaço para fazer novas amizades, que são para manter. A amizade fica de lado na água, onde há competição, mas se for uma competição saudável, conseguimos lidar uns com os outros e manter as amizades.

Valeu a pena passar uma parte das férias a trabalhar e aprender mais no sentido de evoluir. Foi muito positivo!

Por causa do Estágio, passei o meu primeiro Natal fora do Faial, mas também em família”.

Jorge Pires:


Jorge Pires: “Este Estágio permitiu-me melhorar bastante, pois com um grupo grande há mais competição”

“O Estágio foi espectacular! Decorreu muito bem, mas por mim podia ter durado mais dias e sem dúvida que gostava de repetir a experiência. Embora tenha passado o Natal fora de casa, esta não foi a primeira vez que isso aconteceu e posso dizer que foi tudo bom.

É verdade que foi puxado em termos físicos, pois era preciso acordar bastante cedo e trabalhar muito em terra e no mar. No primeiro dia acordámos às 6h30, no segundo às 7 horas da manhã e depois às 3h30!

No rio há muita corrente, mas foi melhor para mim, porque mexe menos. Um dos aspectos que me fez mais diferença foi o facto de, no Faial andar sentado na antevara e lá estive de joelhos. O barco fica mais equilibrado e é fácil. Havia pouco vento, o máximo eram 10 nós.

Fizemos regatas de treino mas também houve espaço para novas amizades. Conversávamos nas camaratas, onde se vivia regime militar. O recolher obrigatório era às 22h00 e às 22h30 os treinadores iam verificar se estávamos todos a dormir. Eu e o Tomás Pó ficámos nas camaratas com os velejadores do Clube do Barreiro.

Como usámos material emprestado, no primeiro dia esperámos imenso tempo, porque não tínhamos carretas. Com esse problema resolvido no segundo dia, a situação começou a modificar-se.

Este Estágio permitiu-me melhorar bastante, pois com um grupo grande há mais competição. Simultaneamente, também serviu de preparação para Campeonato de Portugal Juvenis - Optimist 2015, que se realizará na Horta, de 24 a 28 de Março próximo, onde teremos outras hipóteses de competir com os adversários do Continente português. É verdade que estamos um bocadinho abaixo do nível deles, mas isso é recuperável com treino. Neste contexto, devo dizer que no Clube Naval da Horta treinamos mais do que alguns clubes a nível nacional”.

Rita Branco:


“O Estágio decorreu bem e não foi muito puxado a nível físico. Fizemos exercícios em terra e treinos no rio, onde é completamente diferente do mar.

As técnicas são diferentes e tínhamos de estar mais atentos. Deu para aprender muita coisa! Foi uma experiência nova e muito boa. Já ouvi dizer que no Carnaval poderá haver outro Estágio. Se assim for, gostava de participar.

Acordávamos muito cedo e tínhamos recolher obrigatório.

O facto de não termos tido o nosso Treinador fez com que no início tenhamos ficado um bocado desorientados, mas logo depois encontrámos o rumo.

Socializámos com todos e treinámos uns com os outros. Éramos cerca de 60 velejadores de vários clubes. Fomos muito bem tratados e fizemos novos amigos. Estou muito satisfeita por ter participado”.

Fotografias de: Luís Fráguas