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“A Figura do Mês” - Vítor Azevedo: “Colaborar e trabalhar foi mais importante do que ser Presidente do CNH”

Vítor José de Vargas Azevedo é um homem com história e muitas estórias para contar.

Esteve praticamente 15 anos ausente do Faial e no decorrer do serviço militar foi mobilizado para a Guerra Colonial, mais precisamente para Moçambique. Por lá ficou 10 anos a trabalhar. Regressou a “casa” a 14 de Maio de 1975, numa altura em que o amigo João Carlos Fraga se encontrava a organizar a regata Portsmouth/Horta/Portsmouth. “Colaborei em tudo o que estava ao meu alcance mas tenho de dizer que em termos burocráticos, ele é que tratou de tudo!”, recorda o nosso entrevistado.

O gosto pelo mar e pelo Clube, aliado à grande disponibilidade – não tinha trabalho quando cá chegou – levou Vítor Azevedo a envolver-se de tal maneira no CNH que “aparecia mais do que qualquer Dirigente”. E o empenho impulsionou-o para iniciativas como esta que nos relata. “Havia na altura os Jogos Sem Fronteiras e projectei uma versão desses Jogos, que decorreram entre o cais velho e a rampa de varagem junto ao “Peter”. Para tanto, organizaram-se equipas com os clubes da cidade: Fayal Sport, Sporting e Atlético e até não correu mal.

E havia também umas brincadeiras destinadas aos miúdos, em que se punha um pato no mar para ver quem o apanhava, ou um pau com sebo e chocolates na ponta para ver quem chegava lá e os agarrava! A miudagem adorava aquilo! E havia muita gente que se chegava para ali: miúdos e graúdos”.

mocra azores race

Cartaz da Mocra Azores Race

Ao tempo, a única instituição náutica do Faial era presidida por Luís Gonçalves, “pessoa muito dinâmica e que gostava mesmo do Clube Naval”. Com a saída antecipada deste Dirigente – que não concluíu o mandato – houve eleições e foi com naturalidade que Vítor Azevedo foi votado para Presidente. Da sua equipa faziam parte, maioritariamente, pessoas que já colaboravam regularmente, sendo João Fraga o homem que “tratava da papelada toda”.

E assim, aos 21 dias do mês de Março de 1980, Vítor José de Vargas Azevedo tomava posse como Presidente do CNH, para cumprir um mandato de 2 anos (1980/1982), tendo como colegas de Direcção Francisco Gonçalves, Carlos Garcia (ambos Vice-Presidentes), João Fraga (Secretário), Augusto Medeiros (Tesoureiro), José Decq Mota (Vogal), António  Gonçalves e Braulio Rebelo (Substitutos).

“Antes do caldo de peixe havia as sandes de carne de baleia”

Esse ano de 1975 foi marcante, porque começaram a ser feitas “coisas diferentes” e, como tal, “não podia haver comparação”. E nas novidades incluia-se o inédito caldo de peixe, marco indelével da Semana do Mar, a primeira festa concelhia dos Açores.  “Nessa altura, a Estalagem de Santa Cruz era explorada pelo Turismo e nós íamos pedir ao restaurante cabeças de cherne e outros contributos para fazermos o caldo de peixe”, sustenta Vítor Azevedo, que faz questão de lembrar que “antes do caldo de peixe havia ainda caça à baleia e andava por aí um maluco de um americano chamado Eddy, que ia buscar carne de baleia à fábrica! Lavava-a vezes sem conta na escaleira do cais velho e começámos a fazer umas bifanas que toda a gente queria provar, porque era algo de inédito! Grelhávamos a carne e fazíamos as sandes. O chefe da grelha era o Elmano Azevedo, ao tempo funcionário da SATA e o cozinheiro-mor do CNH. Era voluntário e um grande colaborador na preparação dos caldos de peixe, das bifanas e de outros petiscos.

Convidávamos os iatistas que ficavam fora, em amarrações, naquele espaço que hoje é a Marina Sul. O Clube oferecia a carne e o pão (sandes) e vendia o vinho. Mas eles como pessoas educadas que eram – especialmente os ingleses que foram das primeiras regatas a virem para a Horta, como foi o caso da Portsmouth e da Mocra Azores Race - Portmouth UK/Horta – traziam sempre uma garrafa de uísque, de rum, etc, e com isso conseguíamos abastecer o nosso bar e ainda ter algum lucro. As pessoas adoravam aquilo! Pouca gente se lembra disto mas a verdade é que a carne de baleia era muito apreciada, suscitando uma grande curiosidade”.

A sede do Clube, que “não dispunha de quaisquer condições”, funcionava no pequeno edifício existente junto às muralhas do Castelo de Santa Cruz – hoje Centro de Formação para Desportistas Náuticos – e tinha “apenas dois quartinhos: no mais pequeno funcionava a Secretaria, e no outro, um pouco maior, ficava o Bar”. Precisamente por isso, foi feita uma esplanada, à frente, mas como era de criptoméria, com madeira que a Junta Geral arranjava de borla, todos os anos era preciso substitui-la. “As senhoras iam para lá de salto alto e puff! Furavam a madeira e partiam os saltos”, assinala este antigo Presidente, que acrescenta: “E como queríamos instalar um grelhador cá fora, uma esplanada de madeira constituia um verdadeiro perigo!”

Determinado a resolver a questão, Vítor Azevedo liderou o processo de solicitar à Câmara e ao Turismo a construção de uma estrutura em cimento, “o que não foi autorizado pelo facto de ser ao lado de um monumento nacional”.

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Vítor Azevedo, enquanto Presidente da Direcção do CNH, numa Cerimónia de Entrega de Prémios de Pesca 

Fotografia cedida por: Vítor Azevedo

Encontrando-se na altura uma empresa de construção civil a arranjar o Posto de Turismo, que fica logo acima da antiga sede, este ex-Presidente aproveitou a oportunidade e falou com os donos dessa empresa – dois irmãos – explicando o que pretendia: “Precisava de fazer uma pequena obra aqui em frente – coisa simples – mas não tenho autorização. Se vocês prepararem tudo, aí por volta das 5 horas, quando acabarem, vinham aqui e a gente fazia isto durante a noite. E no dia seguinte está feito e vamos ver o que sucede. A verdade é que os convenci e eles aceitaram!”

Mesmo sem dinheiro, a obra avançou e envolveu verbas significativas para a época – década de 70 – mas o contributo de alguns mecenas e o apoio do Turismo colmatou as necessidades.

Depois da esplanada, foi a vez da churrasqueira ser uma realidade e a exploração do Bar ia a concurso todos os anos, até que apareceu aí um italiano – o Vittório – “que modificou aquilo de tal maneira que se tornou numa esplanada concorridíssima, frequentada por estrangeiros e locais”. “O único problema – memora – é que era muito pequena para tanta gente! Foi um período muito engraçado! Muita família ia para a esplanada fazer as suas refeições, comer os seus grelhados. Havia muito bom ambiente”.

Nos anos 80 e mesmo já antes, o Turismo era o grande patrocinador de algumas das  actividades do Clube. A boa relação que havia levou o Director Regional da altura – Madruga da Costa – a oferecer um pneumático (“um barco pequenino, desses insufláveis”) ao CNH.

“Como ele tinha oferecido o barco, um dia fizemos-lhe este convite: “O sr. ofereceu o barco e não andou nele. Venha experimentá-lo!” E amigo Madruga da Costa, de fato e gravata, salta para o barco. Esse tal Eddy, que era meio maluquinho, foi dar um passeio com ele. Ligou o motor de popa e às tantas seguiu por uma bóia que havia ali a meio da doca, fez uma curva apertada e amigo Madruga da Costa saiu borda fora. E ficou o baptismo feito, o que nunca mais esquecemos!”

As regatas dos franceses

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Os iatistas “apreciavam muito” a ‘t-shirt’ que Vítor Azevedo lhes oferecia

Depois dos ingleses, começaram as relações com os franceses, tendo surgido a “Lorient/Horta”. “Fui convidado pelas equipas da Lorient para ir a França, numa altura em que ainda não era Presidente mas tinha a incumbência de representar o Clube. E fui passar 15 dias a França, com tudo pago pela organização da regata. Foi um passeio esplêndido! Todos os velejadores – eram uns 10 ou 15 barcos – queriam que eu fosse à terra deles. Andei sempre a saltitar de um lugar para o outro, o que me permitiu conhecer uma grande parte da Bretanha.

Dei passeios de barco à vela num bom iate, no Golfe de Morbieu, visitei Bellile, Hildecroix, depois fomos a Saint Malôn de viatura e viemos para Lorient num veleiro. Além disso, ainda fui visitar uma grande marina, que tem um monumento desportivo enorme e que recebe regatas com 80 a 100 barcos, de várias classes.

Fui portador de ‘posters’ para deixar nos clubes navais onde havia reuniões e levei uns filmes sobre a caça à baleia, que eles adoraram ver!

Esta foi a fase mais importante que vivi no Clube Naval. Aliás, foi mais marcante do que propriamente o tempo em que estive na Direcção, pois como nessa altura já estava a trabalhar, não tinha tanto tempo disponível como antes. Considero que colaborar e trabalhar foi mais importante do que ser Presidente!

Claro que tinha uma equipa que ajudava muito, pois não havia dinheiro e tínhamos de fazer de tudo um pouco. Era a Direcção e os Colaboradores que faziam tudo! Aliás, nesta “casa”, os Colaboradores e os Voluntários sempre foram muito activos.

Quando ainda estava na presidência do Clube, uma das grandes curiosidades dos estrangeiros – sobretudo os franceses – era saber que tipo de barco tinha o Presidente. “Isto acontecia, porque normalmente todos os Presidente dos Clubes tinham barco. E eu dizia sempre que o barco pertencia ao Clube, que na altura era a chalupa”.

Os encargos profissionais – exploração de um super-mercado da “Bensaúde” – inviabilizaram um segundo mandato mas permitiram que este antigo Dirigente se mantivesse ligado aos iatistas, abastecendo-os dos produtos que apreciavam. E os “aventureiros”, sempre muito bem recebidos na ilha da hospitalidade, ostentavam com orgulho a ‘t-shirt’ oferecida pelo amigo Vítor Azevedo. “Eles apreciavam muito!”

“Tínhamos de arranjar esquemas para convencer o pessoal a participar”

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“Até tenho uma fotografia da Horta/Velas/Horta em que se vê um barco antigo e um moderno” 

Fotografias de: Vítor Azevedo 

Vítor Azevedo viveu o esplendor da “Horta/Velas/Horta”, regata que era “muito concorrida por locais e estrangeiros”. “Até tenho uma fotografia da Horta/Velas/Horta em que se vê um barco antigo e um moderno. Mas no meu tempo, na Semana do Mar fazia-se a Regata do Canal com 30 e tal barcos, o que não era fácil! Tínhamos de arranjar esquemas para convencer o pessoal a participar. Falávamos com o representante da “Sagres”, por exemplo, e dizia-se: “Eh, pá, vamos oferecer uma caixa de cerveja a quem for” e assim conseguíamos patrocinador. Depois, aliciávamos os franceses com esta conversa: “Vocês participam na Regata e nós oferecemos uma caixa de cerveja”. E eles: “Oui, oui...”

E, eu, para gozar com isto tudo, ainda me lembrei de oferecer uma garrafa de uísque ao que chegasse em último lugar! Como a Regata tinha a duração de 2 horas, às tantas víamos dois ou três ali fora no Canal a fazer bordos para um e outro lado para gastar tempo e ganhar a garrafa de uísque. Inventávamos brincadeiras para passar o tempo!”

“Gostei muito do meu barco. Era único no Faial!”

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“Levava duas pessoas e era muito competitivo, atingindo velocidades engraçadas” 

O nosso entrevistado teve um ‘catamaran’, que mandou fazer em Lisboa. “Um dia, em conversa com o sr. Sena, cujo pai era Director da Alfândega da Horta, confessei que gostava de ter um barco à Vela e ele disse: “Vou arranjar-te um ‘catamaran’ para ocupares os teus tempos livres”. Tenho isto bem presente, porque na altura o construtor vivia em Londres e lá era muito mais fácil trocar libras por notas de 500 escudos do que por qualquer outra nota portugesa. Nunca percebi muito bem o porquê mas era assim. Como tal, fiz o pagamento do barco em notas de 500!

Depois de construído, o ‘catamaran’ foi transportado até ao Faial num dos porta-contentores que escalam a Horta, e no manifesto de carga a descrição era a seguinte: “Barco com tantos metros de largura e tantos de comprido. Mastro: 7 metros de altura”, que vinha deitado junto ao barco. E os senhores da “Bensaúde” fizeram a cubicagem com o mastro no ar, atingindo o transporte o valor de 22 contos! Claro que fui refilar e acabei por pagar somente 2 contos e tal.

A seguir veio o construtor ao Faial montar o barco e explicar como funcionava. Foi experimentá-lo com o meu filho ali para os lados do Monte da Guia e às tantas ficaram sem vento. Houve alguém que viu o barco lá fora e telefonou para a Capitania. Nisto, sai uma lancha para trazer o barco a reboque. Conclusão: além do dinheiro que tinha investido no barco, a seguir deparei-me com o custo exorbitante do transporte e agora ele estava preso, porque não tinha documentos nem vistoria, com a agravante de já ter na Capitania uma multa superior a 2 contos para pagar. Pensei: “Bom, isto ainda mal começou e as inquietações que já tive”. Mas gostei muito dele! Foi o primeiro desse género que veio para o Faial. Levava duas pessoas e era muito competitivo, atingindo velocidades engraçadas.

Por acaso, tinha um nome giro. Chamava-se “Moana”, que no dialecto a jawa, de Moçambique, quer dizer “pequeno”, tendo descoberto posteriormente que “Moana” em em polinésio significa “imensidão dos oceanos”. Grande contraste!”

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Alunos e Directores do Liceu da Horta no arranque do ano lectivo de 1949. Atrás pode ver-se o padre José Correia da Rosa e o Reitor, Morão Correia

Vítor Azevedo, aluno do Liceu e praticante de Vela, é o terceiro da direita para a esquerda na segunda fila, da frente para trás 

Fotografia da “Jovial” cedida por: Francisco Gonçalves

Um desportista versátil 

Muito antes de estar ligado ao Clube, este antigo Presidente do CNH já fazia Caça Submarina. Assim como Vela, que era uma realidade no Liceu e na Mocidade Portuguesa, navegando nos Lusitos, Snipes e Vougas.

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Procissão da Páscoa do ano de 1956: O Liceu da Horta era sempre convidado a incorporar-se nestes e noutros actos religiosos. Podem ver-se os meninos com as capas, pertencentes à “Acção Católica”, que tinha a sua sede onde é hoje a Casa do Dr. Manuel de Arriaga

Do lado direito, em primeiro plano, encontram-se João Bettencourt e Francisco Gonçalves e logo atrás o amigo, Vítor Azevedo

Fotografia cedida por: Francisco Gonçalves

“Eu dedicava-me muito, muito à Caça Submarina mas nunca houve a possibilidade de ter uma máquina para fazer fotografia subaquática. Gostava de ter experimentado!”

Vítor Azevedo foi, inclusivamente, Sócio número 1, Fundador e Presidente do Centro Português de Actividades Subaquáticas (CPAS) da Horta, enquanto foi tropa, no Continente português.

A versatilidade era tão grande, que este faialense de manhã fazia 4 horas de Caça Submarina – “e na altura não havia fatos, era apenas calção de banho” – vinha a casa almoçar e às 3 da tarde ia fazer um jogo de Futebol no Fayal Sport. “Era guarda-redes”. E à noite ainda ia jogar Basquetebol, sempre no Fayal Sport.

No decorrer desta conversa, relembra que certa vez foi a São Miguel, por altura das festas do Santo Cristo, tendo levado o material de Caça Submarina. “Apanhei dois írios de 32 quilos cada, na Caloura, e aquela gente ia-me matando, porque como ofereci um na pensão onde estávamos, a partir dali refeição sim refeição não, era írio”.

Apesar de ser um amante do mar, este ex-Dirigente não era um adepto confesso da pesca. “Fui apenas uma vez à pesca de linha e apanhei um polvo grande e ganhei a prova! Mas não era algo a que eu me dedicasse. No entanto, havia muita adesão por parte dos pescadores às provas que o Clube organizava”.

“O Clube tem trabalhado bem com as dificuldades que há”

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Vítor Azevedo foi distinguido em 1997 com o Dipoma de Sócio de Mérito pelos serviços relevantes prestados à “casa”

Fazendo uma comparação entre aquilo que era o CNH nos anos 80 e agora “não tem nada a ver! Está completamente diferente! A animação da miudagem é diferente. Não havia os meios que há hoje em dia”.

Contudo, há aspectos que se mantêm: “A falta de dinheiro foi sempre um dos grandes males desta “casa”. Ainda assim, acho que o Clube tem trabalhado bem com as dificuldades que há e tem tido gente muito apta e com vontade de levar este projecto para a frente.

Naturalmente que a sede é um problema crónico, com promessas sucessivas. Já no meu tempo era assim. Porém, com as regatas que há actualmente e com os compromissos internacionais assumidos, exige-se outra nomenclatura para o CNH que, na minha opinião, faz demais para aquilo que pode. E é graças precisamente a esses Voluntários e ao José Decq Mota que isso tem vindo a ser possível, pois ele tem sido um Presidente fantástico! Acho que tem trabalhado muito bem”.

Apesar de já não ter a ligação de outrora, Vítor Azevedo continua a pugnar pelo Clube e deseja que mantenha esta linha, pois trata-se de uma instituição “fundamental para a formação dos mais novos e para a divulgação do Faial”, a qual em 1997 distinguiu este ex-Presidente com o Diploma de Sócio de Mérito.

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Vítor Azevedo (o segundo da direita para a esquerda, atrás) também era empenhados nas comemorações com os antigos colegas liceais

Francisco Gonçalves partilha uma fotografia evocativa do Verão de 1989, fora do Restaurante “O Garcia”, na Madalena do Pico, relativa ao Almoço de Confraternização dos Antigos Alunos do Liceu da Horta do Faial e Pico, destinado a assinalar os 40 Anos da passagem por aquele estabelecimento de ensino

“O Presidente do CNH não pode ser um Trump!”

E se a questão incidir sobre quem tem condições para ser timoneiro deste “barco”, Vítor Azevedo sabe bem a resposta: “Não pode ser um Trump. Tem de ser alguém que goste do Clube, do mar, do Faial...” E adianta: “No meu entender, deve ser alguém com uma certa maturidade e influência no meio para quando for preciso alguma coisa poder reivindicar. O Presidente deve ser alguém que, precisando dos outros, também possam precisar dele, pois o Clube “toca” em muito lado. A restante equipa deve ser composta por juventude, para colaborar noutros cargos, os quais quando começarem a ser pagos representa o princípio do fim, pois foi sempre um trabalho de carolas!”

“Já se reconheceu mais o papel do Clube Naval”

Este ex-Presidente entende que “já se reconheceu mais o papel do Clube Naval”, colectividade que desenvolve “um trabalho imprescindível em muitas frentes”. E prossegue: “Na minha perspectiva, há aspectos que têm de ser revistos. Por exemplo, no que diz respeito à Semana do Mar, é verdade que o envolvimento da Câmara Municipal trouxe outras hipóteses de trabalho e de pessoal mas o figurino desta festa tem de ser mudado. Custa-me admitir que a iluminação daquela parte da avenida seja, há não sei quantos anos, sempre igual! Tem de haver uma mudança! Já no meu tempo se falou com o Turismo nesse sentido mas também não funcionou.

A iluminação começava lá à frente, na rampa junto ao “Peter” e vinha pela avenida. A promessa que tínhamos do Turismo era no sentido de, em cada ano, aumentar uma secção entre os 2 mastros, até chegar à Conceição, com o objectivo de iluminar a avenida toda. Mas a triste realidade é que nunca passou da antiga Polícia de Segurança Pública (PSP), hoje sede das Finanças.

E já agora: estou com uma certa curiosidade para perceber o que vão fazer com o Largo do Infante. Toda a gente pede zonas verdes e nós cimentamos tudo. É só calçada no Faial!”

“O CNH é mais conhecido do que aquilo que se pensa”

Para este Dirigente dos anos 80, “o CNH é muito importante” e “o Faial é mais conhecido por causa deste Clube do que por qualquer outra coisa”.

E para comprovar isso, traz à colação uma peripécia vivida em França. “Já me sentia saturado de andar sempre acompanhado e um dia decidi sair um pouco sozinho para também perceber como estava o meu francês. Saí da marina – pois os meus anftriões viviam no barco – e passados uns 500/600 metros, encontrei um bar aberto e disse para mim: “Bem, vou entrar aqui”. Havia pouca gente. Aproximei-me do balcão comprido que lá havia e pedi uma cerveja. Entretanto, reparei num indivíduo que estava na outra ponta sempre a olhar para mim. E pensei que estava a imaginar coisas. Mas passado pouco tempo, ele aproxima-se de mim e pede-me lume. Aí já comecei a não gostar, pois ele tinha passado por uma data de gente e veio logo pedir lume a mim?! Voltou para o sítio onde estava e eu fiquei a beber mais uma cerveja, porque não queria dar o braço a torcer e ir-me embora. Volvidos uns minutos, aproxima-se de novo e diz: “Eu creio que te conheço de qualquer sítio”. E eu ripostei: “Não, não, isso é impossível! Eu sou dos Açores, da Horta, ilha do Faial, e estou aqui há 8 dias. Portanto, não podes conhecer-me”. E ele insiste: “Aí é que te enganas, pois eu passei na Horta e conheço-te muito bem do Clube Naval!” E eu ali a pensar coisas...

Portanto, esta é uma prova irrefutável de que o CNH é mais conhecido do que aquilo que se pensa. E isto nos anos 80! Imagine-se agora!

As regatas “Les Sables”, “Fígaro”, “Lorient”, os ralies que vêm da América, tudo isso tem dado muita projecção ao Faial, e o Clube Naval da Horta tem tido um papel fulcral nessa captação estrangeira”.

Mas nesse capítulo, o entrevistado acha que há ainda muito a fazer: “Dantes podíamos ir até à ponta da doca e agora nem isso! Pensando que não, esse aspecto afasta muita gente!

Quando a “Les Sables/Horta/Les Sables” sai de França, vêem-se centenas de pessoas. Aqui é o Júri e pouco mais. Mas não foi sempre assim! Nos anos 70, quando havia a largada de uma regata, as pessoas acorriam à ponta da doca para ver. Estamos a falar de uma centena de pessoas, o que, comparado com o que se verifica hoje, era muita gente! E esse factor também tem influência nas próprias organizações das regatas estrangeiras, que dizem: “Esta gente não liga nada a isto”. E a verdade é que eles gostam de vir e ficam encantados com a nossa recepção!

Na Semana do Mar passa-se um pouco a mesma coisa, pois como as largadas obedecem sempre a certas regras, são feitas ali por meio canal, e como estão muito afastadas de terra, o Zé Povinho não não vai nem se interessa, devido à distância! Verdade seja dita que que nalguns casos as pessoas passam e andam; não estão ali para ver. E outros só ligam a tascas, restaurantes e música, não estando interessados em desportos náuticos. Mas se houvesse outra proximidade, talvez o resultado fosse diferente”.

Um apaixonado pela fotografia

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A paixão deste fotógrafo levou-o a captar momentos “únicos e irrepetíveis” de “aventureiros” no Porto da Horta 

Fotografia de: Vítor Azevedo 

Vítor Azevedo tem na fotografia uma grande paixão. “A fotografia na minha vida é muito antiga. Começou aos 14/15 anos, juntamente com o Francisco Gonçalves. Somos da mesma geração e andámos juntos no Liceu. Na loja por baixo da minha casa montámos o nosso estúdio fotográfico e era ali que fazíamos as nossas fotografias.

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Fevereiro de 1957: João Bettencourt (filho dono do “Teatro Faialense”), Vítor Azevedo e Francisco Gonçalves, no patamar da escadaria da Sociedade “Amor da Pátria” 

Fotografia cedida por: Francisco Gonçalves

Durante estes anos todos, cedi e vendi muitas fotografias! No período em que estive no Clube tinha uma máquina pequenina mas não fazia muita fotografia.

Sempre tive o hábito de passear com a máquina e quando andava por ali na doca a ver os barcos, de repente acontecia! Captei fotografias únicas! Irrepetíveis!

Recordo-me muito bem da fotografia que tirei ainda na doca, em que se vêem duas pessoas envolvidas na pintura e apenas duas pernas. Gosto muito dessa!”

Vítor Azevedo aprendeu experimentando mas também teve algumas “luzes”. “Comprava o revelador e o fixador na “Foto Jovial” e depois era ir testando. Morava ali para os lados da Conceição uma senhora chamada Elvira Romão [fotógrafa], que tinha um laboratório fotográfico e também me ensinou umas coisas”.

Reportagens de casamentos e baptizados fazem parte do percurso deste fotógrafo, que prefere fotografar paisagens e flores, tendo transmitido o legado ao filho, que aposta na fotografia de aviões.

Vítor Azevedo foi contratado pela “Portos dos Açores, S.A.” para fazer o acompanhamento fotográfico da nova obra do Porto da Horta desde o princípio até ao fim, tendo feito mais de 8 mil fotografias! O mesmo aconteceu com as actuais instalações do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP), na Horta.

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“Recordo-me muito bem da fotografia que tirei ainda na doca, em que se vêem duas pessoas envolvidas na pintura e apenas duas pernas. Gosto muito dessa!” 

Fotografia de: Vítor Azevedo

Habituado a máquinas analógicas, o nosso entrevistado sublinha que “a diferença entre o analógico e o digital é enorme!” e confessa que a transição de um para o outro “foi um pouco difícil”. “Eu gostava do analógico e tirei milhares de fotografias ao longo da minha vida! Era interessante ver o que saía depois quando se mandava revelar mas claro que ficava caro! Com o digital, tiramos uma infinidade delas, apagamos o que não interessa e já está!”

Paralelamente às recordações, Vítor Azevedo ainda guarda a máquina analógica afirmando que “já é difícil arranjar certos tipos de rolos”.

Naturalmente que esta paixão implicou sempre investir, pelo que já há 30 anos adquiriu uma “Reflex”, que permitia ver a imagem de cima quando se estava em sítios com muita gente, e em Moçambique teve uma “Fuji”, também desse modelo. “Sempre gostei de fazer fotos de cima para baixo e de apostar em coisas diferentes”.

Aos 80 anos de idade, Vítor Azevedo mantém a paixão mas já fotografa muito menos, “apesar de até ter uma máquina relativamente nova” – uma “Nikon” 6.100 – que lhe foi oferecida pelo filho.

Um vencedor de concursos

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Este recorte atesta os resultados do Concurso das Festas da Cidade de Vila Cabral, em que Vitor Azevedo ganhou 3 dos 4 prémios

Já em Moçambique, quando cumpria o serviço militar, este faialense foi responsável pela Secção Fotográfica do Comando do Sector do Niassa. “Havia as festas da cidade de Vila Cabral, em que organizavam um Concurso de Fotografia. Num dos anos ganhei o 1º, o 2º e o 4º Prémios. Só o 3º é que não ganhei mas também foi para um Vítor, que era piloto de táxis aéreos, e captou uma fotografia aérea muito gira.

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RUA de mais um dos nossos leitores de Nampula, foi a melhor foto desta semana. Recebemo-la, acompanhada pela carta que publicamos noutro local desta secção, e é assinada por Vítor José Vargas Azevedo. Como habitualmente este nosso leitor tem direito a uma assinatura de TEMPO durante os próximos três meses. Toda a correspondência para A MELHOR FOTO deve ser endereçada à Redacção de TEMPO, Caixa Postal 2917, Lourenço Marques

Recorte que acusa o desgaste provocado pelo tempo e que foi cedido pelo entrevistado

Eu fazia muita fotografia nocturna da cidade. Depois desse Concurso, pediram-me para usar as minhas fotografias numa revista que havia em Lourenço Marques, chamada “O Tempo”, e então fui capa dessa revista durante alguns anos. Infelizmente não guardo qualquer exemplar, porque depois de Moçambique fui para a antiga Rodésia, hoje Zimbabué, e claro que tudo isso foi ficando pelo caminho”.

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Vítor Azevedo coleccionou muitos troféus fotográficos 

Muitas exposições

Ao longo dos anos, foram vários os convites que Vítor Azevedo recebeu para expôr as suas fotografias. Olhando para um dos seus álbuns, podemos recordar a mostra intitulada “Um Piscar D’Olho”, que esteve patenteada no Museu da Horta de 18/05 a 15/08/1995; a 1ª Mostra Fotográfica de Flores e Plantas, que decorreu no Parque de Exposições da Quinta de São Lourenço, de 20 a 23 de Julho de 1995; outras realizadas na Marina da Horta, no Museu e no decorrer da Semana do Mar.  

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“As últimas duas aconteceram por altura da Semana do Mar, em 1999 e 2000, onde é hoje o “Montepio”. Aquele espaço estava praticamente em ruínas e eu fui para lá com uns franceses – que estavam aí e faziam uns biscates – arranjar aquele espaço. Foi engraçado, porque toda a gente me dizia que eu nunca iria recuperar o dinheiro investido ali mas o resultado foi muito bom!

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Recorte do jornal “Telégrafo”, edição de 20 e 21 de Maio de 1995

Recordo que em pouco mais de 15 dias uma das exposições foi visitada por 2.800 pessoas! Numa terrinha destas é muita gente! E consegui esse controlo a partir de uma votação. Fiz uns papelinhos para as pessoas votarem na fotografia de que gostassem mais e depois depositavam na urna que lá estava para esse efeito.

Considero que o que também contribuiu para este sucesso foi o facto de o espaço estar na passagem para a festa, porque a Semana do Mar estendia-se para lá do “Peter”. Era, digamos assim, quase uma paragem “obrigatória”.

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Vítor Azevedo conversa com Renato Leal, na altura Presidente da Câmara da Horta

 As pinturas no paredão da Doca e na Marina 

Vítor Azevedo foi testemunha do colorido que decorava o paredão da Doca – como presságio de uma boa viagem de regresso – num tempo em que ainda não havia Marina!

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“Aquele chão da Marina era lindo e estava completamente cheio!”

“Tirei muitas fotografias num tempo em que os barcos ficavam encostados à doca. E recordo-me particularmente da que tirei a um bebé, que talvez tenha sido o iatista mais novo que por cá passou. Esse belíssimo património praticamente não existe hoje!

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“Foi pena não terem aproveitado a proposta do Othon Silveira, que consistia em retocar as pinturas que iam desaparecendo. Tantas que se perderam!” 

Lembro-me de naquela altura o Othon Silveira, que trabalhava em ‘scrimshaw’, ter feito uma proposta ao Turismo mas não chegaram a conclusão alguma. Foi pena não terem aproveitado essa proposta, que consistia em retocar as pinturas que iam desaparecendo. Tantas que se perderam!

Aquele chão da Marina era lindo e estava completamente cheio! Parecia um mar! Algumas das que tirei lá deram-me um trabalhão! Para tanto, arranjei um carro da Empresa de Electricidade dos Açores (EDA) que facilitava muito por ter aquela cesta lá em cima, constituindo um local privilegiado e estratégico para o fotógrafo. O Macedo é que foi o ‘choffeur’ e deu-me uma colaboração preciosa. Sempre fomos amigos e ele sabe como é, pois também gosta muito de fotografia e tem jeito para isto!

A propósito, recordo que no meu tempo de Presidente oferecíamos tintas e pincéis, que punhamos à disposição dos iatistas, e eles iam lá buscar. E também lhes cedíamos revistas e livros já que depois de 20 dias sempre a ver o mesmo, gostavam de trocar, ainda que fosse por publicações mais velhas mas o que interessava era variar”.

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Vítor Azevedo: “Tirei uma fotografia a um bebé, que talvez tenha sido o iatista mais novo que por cá passou” 

Fotografias de: Vítor Azevedo

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