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Entrevista a Paulo Gonçalves: “O Windsurf foi a atividade desportiva que mais prazer me deu”
Década de 80: Paulo Gonçalves a aprender Windsurf, na Baía da Horta
Ele fez parte da geração dourada no que ao Windsurf diz respeito. Isto significa que aprendeu e praticou no Faial – terra pioneira neste e noutros desportos – e que ainda hoje vibra com as sensações que a modalidade consegue provocar.
Nesta Entrevista, Paulo Gonçalves recorda o passado, analisa o presente e perspetiva o futuro da modalidade em que já foi professor. Confessa que foi com prazer que recebeu o convite para voltar a deslizar sobre a água, a bordo do Windsurf, desporto de que guarda gratas memórias.
“O Windsurf apareceu como uma atividade nova e individual”
- Gabinete de Imprensa do CNH: Quando começou a praticar Windsurf?
- Paulo Gonçalves: Comecei a fazer Windsurf aos 15 anos, em 1980.
- Gabinete de Imprensa do CNH: Porquê esta modalidade e não outra?
- Paulo Gonçalves: Na época, depois dos Lusitos e dos Optimist, passávamos para a Classe Vaurien. Só havia 2 ou 3 embarcações e implicava uma tripulação de 2 velejadores. Isso limitava bastante as possibilidades de treinar. O Windsurf apareceu como uma atividade nova e individual, atrativa e mais fácil de transportar. Foram estas algumas das razões que me levaram a praticar.
- Gabinete de Imprensa do CNH: Quem lhe ensinou?
- Paulo Gonçalves: Em 1980, tive a oportunidade de fazer um Curso com um monitor francês que trouxe para o Faial 4 pranchas Óceanite, novas. A aprendizagem começou com esse Curso e depois a evolução aconteceu com a prática e muitas leituras de revistas francesas, em especial a Planche à Voile.
“A velocidade atingida sobre a água é uma experiência fantástica e que não se vive em muitas outras modalidades”
“Penso que fomos mesmo o único Clube Naval que organizou provas de freestyle em Portugal”
“Também organizámos na altura uma prova única e pioneira: um triatlo”
- Gabinete de Imprensa do CNH: O que representa para si esta modalidade?
- Paulo Gonçalves: O Windsurf, uma especialidade da Vela, foi a atividade desportiva que mais prazer me deu fazer. A velocidade atingida sobre a água é uma experiência fantástica e que não se vive em muitas outras modalidades. Uma das áreas onde mais colaborei com o Clube Naval da Horta foi no Windsurf, tendo integrado várias equipas de Secções de Prancha à Vela e organizado muitas atividades, onde destaco o primeiro e único Campeonato Nacional organizado no Faial, em agosto de 1986. Nessa altura, organizámos, também, um Campeonato interessante, que englobava provas em triângulos olímpicos: slalom, longa distância e freestyle e que terminava com uma festa na praia. Penso que fomos mesmo o único Clube Naval que organizou provas de freestyle em Portugal.
Também organizámos na altura uma prova única e pioneira: um triatlo composto por Natação, Windsurf e Corrida.
- Gabinete de Imprensa do CNH: Quanto tempo praticou?
- Paulo Gonçalves: Pratiquei desde 1980 até 2005. A partir de 1990, foi apenas de forma esporádica.
- Gabinete de Imprensa do CNH: Por que parou?
- Paulo Gonçalves: Parei por várias razões. Em primeiro lugar, porque na vida as prioridades vão mudando. Com o nascimento dos meus filhos, a atenção passou a estar centrada neles e não em mim. Mas houve outras razões. A vertente competitiva deixou de fazer sentido; a inexistência de outros praticantes, a falta de um companheiro de prática, a multiplicidade de tipos de pranchas e o quase desaparecimento das pranchas de maior volume, também pesaram na minha decisão.
“A tarde que passei com alguns dos praticantes da minha geração foi um momento muito agradável”
- Gabinete de Imprensa do CNH: Após vários anos de interregno, foi convidado a retomar esta atividade. O que sentiu?
- Paulo Gonçalves: Tenho de fazer referência ao Miguel Morais, à Daniela Costa e ao Bruno Gonçalves, que há 2 anos iniciaram este processo de reanimação do Windsurf no Faial. Foi particularmente o Miguel e a Daniela que fizeram com que eu voltasse a ganhar motivação para ir dar umas voltas. Organizaram várias iniciativas e tive muito gosto em participar.
Este ano, este novo Grupo está a prosseguir esse esforço e teve a simpatia de organizar uma atividade em homenagem aos primeiros praticantes, facto que não posso deixar de reconhecer, me deixou feliz! A tarde que passei com alguns dos praticantes da minha geração foi um momento muito agradável.
“Chega-se ao fim-de-semana e nem sempre há condições para praticar”
- Gabinete de Imprensa do CNH: Vai continuar ou foi um evento isolado?
- Paulo Gonçalves: No ano anterior tinha prometido a mim mesmo que, se fizesse Windsurf 10 vezes nesse ano, iria pensar em adquirir material novo. Fiz 5. Por isso, acho que isso não acontecerá. Gosto de fazer Windsurf com vento forte e isso implica treinar quando não há vento forte. Mas, muitas vezes quando há bom vento, não dá porque estou a trabalhar. Chega-se ao fim-de-semana e nem sempre há condições. Obviamente que isto são tudo desculpas, pois quando a motivação é muito forte, encontra-se sempre tempo e condições!
“Aprecio a vontade destes praticantes em revitalizar o Windsurf e, em especial, porque foram todos meus alunos”
- Gabinete de Imprensa do CNH: Quem aprende nunca esquece?
- Paulo Gonçalves: Sim, claro, embora implique uma revisão da matéria!
- Gabinete de Imprensa do CNH: O que acha da revitalização que está a ser feita pelo Grupo de Trabalho da Secção de Windsurf do CNH?
- Paulo Gonçalves: Como já disse, aprecio a vontade destes praticantes em revitalizar o Windsurf e, em especial, porque foram todos meus alunos. Penso que têm uma tarefa difícil, por muitas ordens de fatores, que passo a enumerar:
→ há cada vez menos jovens
→ há uma multiplicidade de atividades desportivas disponíveis
→ há muitas outras opções de ocupação dos tempos livres
→ os equipamentos são caros
→ e o Windsurf já não é um desporto novo, entre outros fatores
Por outro lado, como já afirmei em local próprio, não percebo esta distinção semântica - Grupo de Trabalho ao invés de Secção, quando até organizam mais atividades do que outras Secções. Tem a importância que tem, mas não percebo!
- Gabinete de Imprensa do CNH: Na sua opinião, o atual Grupo de Trabalho da Secção de Windsurf do CNH está no caminho certo?
- Paulo Gonçalves: Em bom rigor, não posso responder porque não sei qual é o caminho. Mas acho que estes praticantes mais jovens – e o Windsurf no Faial – teriam tudo a ganhar com a participação e contributo dos praticantes “um pouco mais experientes na vida”.
- Gabinete de Imprensa do CNH: Trata-se de uma modalidade com grande implantação no CNH e na ilha do Faial?
- Paulo Gonçalves: Não, e penso que nunca será, pelas várias razões que acima referi.
O Faial tem muito boas condições para a prática de desportos de contacto com a natureza, mas, infelizmente, não tem condições excelentes para quase nenhum. Não se pode ter tudo. O Windsurf enquadra-se nesta realidade, infelizmente. Por esta razão, acho que nunca deu um salto quantitativo e qualitativo e, sem querer ser muito pessimista, não perspetivo que tal aconteça no futuro.
“Gosto de fazer Windsurf com vento forte e isso implica treinar quando não há vento forte”
Fotografias cedidas por: Paulo Gonçalves
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