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Entrevista ao novo Treinador e Coordenador da Natação do CNH: “As condições de trabalho são excelentes”

Diz que é exigente, perfeccionista e teimoso no bom sentido. Aceitou o desafio de vir trabalhar para o Faial – terreno totalmente desconhecido – como sendo uma experiência nova, mas, acima  de tudo, para ajudar o Clube Naval da Horta (CNH). Estamos a falar de Tiago Henriques, o novo Treinador e Coordenador da Secção de Natação do CNH, natural de Portalegre, um jovem de 34 anos, que começou a nadar aos 5, tendo, por várias vezes, sido Campeão Regional.

Sublinha que foi muito bem recebido no CNH e que gosta de estar no Faial. Para trás ficou uma carreira muito ligada ao Clube Bairro dos Anjos e às amizades que lá fez, de quem custou bastante apartar-se.

Foi com a disponibilidade e a vontade de trabalhar que o caracterizam, que aceitou o convite para esta primeira Entrevista, que tem como objectivo dar a conhecer um pouco daquilo que é o lado pessoal e o lado profissional deste caranguejo de signo.

“Fui muito bem recebido por todos”

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“Gosto de me envolver nas actividades dos clubes e normalmente sou prestável”

- Gabinete de Imprensa do CNH: Como acontece esta mudança?

- Tiago Henriques: Eu estava a preparar-me para iniciar mais uma época no clube da minha terra: o Clube de Natação de Portalegre, mas as condições não eram as melhores por não se avizinharem horizontes de estabilidade. Até se punha a hipótese de a Piscina fechar durante muito tempo para obras.

Entretanto, através da Federação Portuguesa de Natação (FPN) tive a informação de que o Clube Naval da Horta estava à procura de um Treinador de Natação, tendo recebido o meu currículo já no final de Setembro. Gostei do projecto e encarei esta mudança como um desafio, uma experiência nova, pois é a minha estreia absoluta no Faial e nos Açores. E posso dizer que aqui tenho autonomia para desenvolver as minhas ideias.

- Gabinete de Imprensa do CNH: A recepção foi boa?

- Tiago Henriques: Fui muito bem recebido por todos, a começar pelo Presidente, o Sr. José Decq Mota; pela Vice-Presidente, Olga Marques; e pelos membros da Direcção que fui conhecendo. Tenho sido muito bem tratado. Gosto muito de cá estar e das pessoas de cá.

- Gabinete de Imprensa do CNH: A prova disso foi o rápido envolvimento no CNH...

- Tiago Henriques: Tenho muito essa postura. Gosto de me envolver nas actividades dos clubes e normalmente sou prestável. A rotina aborrece-me um bocadinho.

- Gabinete de Imprensa do CNH: E como são as condições que encontrou?

- Tiago Henriques: As condições de trabalho são excelentes! Não há muitos treinadores que possam dizer que têm 8 pistas para trabalhar todos os dias. Não acontece em lado algum. A esse nível é muito bom.

Mesmo aqui no Clube, o ambiente de trabalho é saudável. Lidamos todos bem. Estou a entender-me bem com todos mas principalmente com o António Menezes Porteiro (Topê), Técnico de Gestão Desportiva. Há uma boa relação de trabalho e apoiamo-nos mutuamente. Temos estado a organizar questões burocráticas da Escola de Natação. O arranque de um novo ano lectivo implica sempre isso, mas havia outros aspectos sobre os quais eu e o Topê tínhamos uma forma de organização diferente. Estamos a implementar algumas alterações e esperamos implementar outras mais à frente. Para já, está a correr bem.

Acho que o CNH está bem organizado. O ambiente é bom e saudável, o que é muito positivo.

Naturalmente que o CNH vive com dificuldades como acontece com muitos outros por esse país fora, mas a verdade é que não se reflectem muito na Natação, pelo facto de os treinos decorrerem noutro espaço.

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“Acho que o CNH está bem organizado. O ambiente é bom e saudável”

Campanha “Traz um Amigo!”

- Gabinete de Imprensa do CNH: A Secção de Natação do CNH representa mais de 100 Atletas...

- Tiago Henriques: Temos 16 Cadetes e 19 Absolutos na Competição. Estou a Coordenar a Escola de Natação e tenho as Turmas de Competição. No total, são mais de 60 nadadores na Escola de Natação além dos da Iniciação, na Piscina Municipal, o que perfaz mais de 100 Atletas.

Mas este número tem tendência para aumentar, se tivermos em conta que estamos a tentar desenvolver a Campanha “Traz um Amigo!”, com o intuito de captar novos nadadores. Esta Campanha consiste no convite a alguém que esteja interessado em experimentar a Natação e se gostar e aderir, o atleta que fez este convite no mês seguinte tem um bónus: não paga a mensalidade.

Esta ideia pode fazer com que tenhamos turmas maiores. Para a quantidade de população que temos no Faial, podemos crescer. Temos condições para crescer além de que somos o único clube náutico da ilha.

O objectivo é aumentar a base e isto é transversal ao país inteiro. Se nós tivermos 30 Cadetes, passado algum tempo vamos ter menos, por factores diversos. É fundamental termos uma pirâmide com uma base muito grande atendendo a que há sempre desistências. Acontece em todos os desportos e este não é excepção.

A propósito desta iniciativa, eu gostava de conversar com a pessoa que é Responsável pela Piscina Municipal no sentido de desenvolvermos esta Campanha em parceria pois, afinal, os Atletas que treinam na Piscina Municipal fazem a inscrição no CNH. Estamos todos inter-ligados.

“90% do atleta é feito pelo trabalho”

- Gabinete de Imprensa do CNH: Encontrou jovens promessas na Natação do CNH?

- Tiago Henriques: Temos aqui alguns Jovens-Talento. Mas não basta ser isso. É preciso trabalhar. E essa é uma questão em que vou ter de incidir muito.

- Gabinete de Imprensa do CNH: O que são exactamente Jovens-Talento?

- Tiago Henriques: São miúdos com aptidões para crescer, seja pelas características morfológicas, pela capacidade de trabalho ou vontade de aprender. São vários factores a ter em conta.

Geralmente os Treinadores têm um tipo de nadador na cabeça: ou por ser mais alto e esguio ou por ter os braços mais compridos. Também acontece por vezes serem miúdos mais pequenos mas que têm muita vontade de trabalhar e que ouvem aquilo que nós dizemos, fazem-nos perguntas, mostram interesse e empenho.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Qualquer um pode ser um Jovem-Talento?

- Tiago Henriques: 90% do atleta é feito pelo trabalho. O talento só não chega. Não adianta de nada ter talento e depois não haver capacidade de trabalho ou não gostar de treinar.

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“É mais difícil treinar um miúdo no meio aquático do que no meio terrestre” 

- Gabinete de Imprensa do CNH: E se eu tiver muita capacidade mas faltar talento?

- Tiago Henriques: Tudo se consegue com trabalho. Temos um excelente exemplo em Portugal que é o Cristiano Ronaldo. Todas as entrevistas dele vão bater ao mesmo desde pequenino até agora: era sempre o primeiro a chegar e o último a ir-se embora.

E ainda hoje depois de ter conquistado 5 Bolas de Ouro e de já ter ganho tudo o que havia para ganhar, chegou à Juventus e os colegas dizem exactamente a mesma coisa: é difícil acompanhá-lo a treinar.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Mas ali há um bocadinho de genética...

- Tiago Henriques: Sim. Mas a Natação é diferente de todos os outros desportos só pelo facto de ser no meio aquático. Isso muda tudo! Muda o centro de gravidade, a percepção deles muda, o corpo... A água dificulta!

- Gabinete de Imprensa do CNH: Mas é habitual ouvirmos dizer que a água ajuda!

- Tiago Henriques: A água ajuda em questões de lesões, como por exemplo quando há impacto. Mas é mais difícil treinar um miúdo no meio aquático do que no meio terrestre. Nós não fomos feitos para estar dentro da água. Essa é a razão pela qual os miúdos da Natação têm de treinar mais do que os outros.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Os atletass dizem sempre que uma semana sem treinar significa muito trabalho para recuperar.

- Tiago Henriques: E é verdade! Um dia sem treinar significa que são precisos três dias para recuperar a sensibilidade na água.

O Michael Phelps esteve todos os dias a treinar durante 5 anos para não perder a sensibilidade. Ele era a grande referência, mas agora começam a aparecer outros atletas.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Um miúdo apercebe-se rapidamente se tem ou não jeito para a modalidade, certo?

- Tiago Henriques: Normalmente, os miúdos que acham que não têm muito jeito acabam por enveredar por outro desporto infelizmente, e muita coisa pode mudar nestas idades. Eu já conheci e observei isso pela minha experiência nestes últimos anos, que na idade de Cadetes achavam eles e achavam os pais que não tinham jeito e depois constatava-se precisamente o contrário!

Quando eu estava em Leiria, alguns pais chegaram a perguntar-me: “O que é que o meu filho está aqui a fazer? Ele não consegue acompanhar os outros. Você acha que ele deve aqui andar?”

Lembro-me de um caso em específico, que era o Rodrigo Reis, que foi meu atleta no Bairro dos Anjos, e a mãe dele chegou a fazer-me essa pergunta. Posso adiantar que este ano ele foi chamado à Selecção Pré-Júnior. 

É difícil prevermos quem vai ou não ser atleta e muitas vezes vejo isso na Natação, que é o caso de miúdos que se evidenciam muito nos Cadetes e mais tarde acabam por não conseguir corresponder. Às vezes por uma questão de maturação ou por uma questão psicológica.

Eu não nego ninguém que queira nadar.

“Não queiram queimar etapas”

- Gabinete de Imprensa do CNH: O que move um atleta a dar tudo por tudo sabendo que não tem futuro no Faial?

- Tiago Henriques: Temos de mudar essa mentalidade. Eles normalmente vão-se embora para a faculdade aos 18 anos. Há sempre clubes aptos para os receber, principalmente nas grandes cidades para onde vão estudar. Se eles quiserem continuar todas as grandes cidades têm Clubes de Natação. O sair de cá não é desculpa para não continuarem.

A minha missão é prepará-los para chegarem a essa idade em condições de continuarem. Não se trata de querer tirar deles o máximo rendimento enquanto aqui estão e depois estar a queimar etapas e possivelmente prejudicar o futuro deles.

A Federação Portuguesa de Natação fez um estudo há relativamente pouco tempo e constatou-se que 100% dos atletas em Portugal, que fizeram recorde nacional como Infantil, não chegaram a Junior. Porque se esgotaram!

Um miúdo quando é puxado demasiado cedo a nível fisiológico corresponde, porque tem uma plasticidade e uma capacidade tremenda de se adaptar ao esforço. É fácil pegar num miúdo que nós percebemos que tem algum talento e querer fazer dele o que ainda não é. E depois quando chega a Juvenil, normalmente aqueles miúdos a quem eles ganhavam, vão começar a aproximar-se. E a grande questão é que eles não sabem lidar com a frustração de perder depois. E acabam por abandonar a modalidade. Essa é uma problemática que é discutida há muito tempo. A Federação preocupa-se muito com isto, daí ter feito o estudo.

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“Não vale a pena estar a acelerar o processo, porque vamos pagar a factura mais tarde”

- Gabinete de Imprensa do CNH: Esse estudo vem contra aquilo que é habitual. Essa é também a visão do Tiago?

- Tiago Henriques: Digo sempre: não queiram queimar etapas. Cada criança tem o seu tempo de aprendizagem.

Nos Cadetes, a idade dos rapazes varia entre os 9 e os 12 anos.

As meninas passam para Infantil um ano mais cedo: 8/11 anos. Uma menina de 2004 está à frente de um rapaz de 2004. Lá está, tem a ver com as questões de maturação. O corpo da mulher matura mais cedo, portanto, ela muda de escalão um ano mais cedo.

E mesmo no que diz respeito à maturação, temos muitos casos a nível mundial onde isto aconteceu. Estou a lembrar-me da brucista lituana, Rūta Meilutytė, que aos 15/16 anos apareceu nos Jogos Olímpicos e fez Recorde Olímpico. Isto foi em 2012, no Reino Unido. Em 2016 penso que ficou em 7º ou 8º lugar na final.

O desporto está cheio de casos destes. Os atletas têm de ter resultados mais à frente.

É a partir de Junior que entramos no Alto Rendimento: com 15, 16, 17 anos. Temos de prepará-los.

Faço muitas comparações com a Escola, por isso estou sempre a dizer-lhes: “Vocês quando entram para a Escola não vão directamente para a universidade”. O percurso normal é não queimar etapas. Cada idade tem os seus aspectos diferentes que devem ser trabalhados, quer a nível motor quer a nível psicológico. E isso tem que se ter em conta. Não vale a pena estar a acelerar o processo, porque vamos pagar a factura mais tarde.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Essa pressa também se verifica aqui no CNH?

- Tiago Henriques: Sim, eles têm um bocadinho pressa de crescer. Acho que isso pode partir dos próprios miúdos que, quando começam a perceber que têm jeito, querem crescer depressa.

Os Cadetes querem treinar com os Infantis, mas isso eu não vou permitir. Cada um tem o seu lugar, por isso é que as categorias existem.

O facto de eles continuarem no grupo dos Cadetes não quer dizer que não façam trabalho diferenciado. Se eu tiver um miúdo que se diferencie de outro, é claro que não posso estar a atrasar o desenvolvimento dele. Vai fazer trabalho diferente, mas está incluído no grupo de trabalho dele. E eles, no CNH, já perceberam isso. Tenho aqui um potencial talento, mas já percebeu que é ali que deve estar até por uma questão psicológica, porque ainda são miúdos muito imaturos, que precisam de brincar, necessitando de outro tipo de mimo e de carinho. Estar a incluí-los já no grupo dos grandes é mau, porque eles ainda não têm a capacidade de treinar com os maiores. Eu sei que eles vão querer acompanhar os maiores e vão conseguir e é isso que eu não quero que aconteça.

É bom que os mais novos tenham referências nos seus clubes, mas simultaneamente têm de perceber que há um tempo certo para tudo.

Eu sou muito teimoso em relação a algumas coisas e no que concerne aos Cadetes sei que tenho razão, até porque já experienciei e deu resultado.

Eles têm de aprender a nadar. Tenho de preparar os Cadetes para chegarem aos Infantis com bons níveis técnicos a fim de que evitem lesões, estando aptos para treinar mais e melhor. E evitam-se lesões com uma boa técnica.

“Tem que se cumprir horários”

- Gabinete de Imprensa do CNH: Em que consiste uma boa técnica?

- Tiago Henriques: Uma boa técnica é o aquecimento e a própria técnica de nado apoiado.

Reparei que na Natação do CNH os atletas não tinham grandes hábitos de trabalho fora da água. Já implementei o aquecimento que têm de fazer todos os dias. Neste momento, têm de chegar à piscina 15 minutos antes, o que inicialmente se revelou complicado, porque chegavam sempre atrasados. Isso é um hábito que me faz um bocado de comichão. Tem que se cumprir horários. É um bom hábito da sociedade e cada vez mais ninguém chega a tempo a nada e eu não gosto disso!

Qual é a diferença de acordar 10 minutos mais cedo? Se no treino da manhã sabem que têm de entrar para a água às 7 horas e que não o podem fazer sem aquecer, significa que têm de estar no cais da piscina 15 minutos antes.

Os treinos da 7 da manhã mantêm-se à segunda, quarta e sexta. Já quase todos chegam às 6h45. E não defendo isto sequer pelo preciosismo, mas porque se eles chegarem a horas torna possível a parte da comunicação entre nós e permite conhecermo-nos melhor. Às vezes preciso de ter ali um discurso mais motivacional e acabo por perdê-lo por falta de tempo. Ou então acabo por perder tempo de água. Prefiro perder tempo de água e dar importância a outras coisas. Mas se pudermos fazer as duas coisas, melhor. Gosto de conversar às vezes um bocadinho com eles.

Eu sou muito perfeccionista, muito mesmo, o que significa quer vou arranjar sempre aspectos para melhorar. E é isso que estou a trabalhar com eles.

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“Eu sou muito perfeccionista, o que significa quer vou arranjar sempre aspectos para melhorar”

- Gabinete de Imprensa do CNH: É bom estar sempre a mudar de treinador?

- Tiago Henriques: Não, porque não permite dar continuidade ao trabalhado iniciado.

E geralmente dizem que os treinadores de Natação são pessoas muito teimosas e com ideias muito fixas.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Quer partilhar connosco algum tipo de regra que já tenha estabelecido com o grupo?

- Tiago Henriques: Pedi aos Cadetes e aos mais velhos para que ninguém saia da Piscina chateado. O que lhes disse foi: “Se eu fizer alguma coisa de que vocês não gostem, digam-me. Conversem comigo no fim”. E isso já aconteceu e foi bom! É importante não haver mal entendidos.

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“A equipa está unida, o que é muito bom!”

- Gabinete de Imprensa do CNH: O que é que o Tiago pretende mudar?

- Tiago Henriques: A nível de Escola de Natação, gosto das coisas organizadas. E aqui tenho de falar do Bairro dos Anjos, que foi onde fiz a maior parte da minha formação e muitas vezes o sítio onde trabalhamos vale mais do que qualquer canudo ou formação superior. Tive a sorte de naquele Clube terem apostado em mim e de me terem dado a oportunidade de crescer. E é um Clube que trabalha muito bem. Vai ser sempre uma referência no meu percurso, porque estou a falar de 8 anos consecutivos de trabalho em que foram criadas muitas relações pessoais e afectivas.

Tive crianças nos Cadetes que nunca conheceram outro professor senão eu. Fui eu que as ensinei a nadar e apanhei-as nos Cadetes.

- Gabinete de Imprensa do CNH: A decisão de vir embora não foi bem aceite?

- Tiago Henriques: Nada! Foi muito complicado no dia em que me vim embora. A nível emocional, foi um dos dias mais duros da minha vida. Não tenho dúvidas! Organizaram-me um almoço que teve uma carga emotiva muito grande. Estiveram presentes 120 pessoas, entre miúdos e famílias.

Foi puxado ao ponto de eu não ter conseguido falar no fim. Era suposto eu ter dito algo, mas cada vez que tentava, chorava ainda mais.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Os homens também choram!

- Tiago Henriques: Tenho o coração no sítio certo!

Eu saí de lá como uma oportunidade de crescer também um bocadinho. De Leiria saí para Albufeira. Tive uma época em Albufeira e outra em Olhão. E agora vamos ver como corre aqui. Tenho autonomia e está a ser muito bom.

- Gabinete de Imprensa do CNH: O passado continua a fazer parte do presente?

- Tiago Henriques: Claro que sim! E quero aproveitar esta oportunidade para dirigir um agradecimento a alguns pais da equipa de Cadetes que orientei em Leiria, pelo apoio e carinho que sempre me deram e continuam a dar nos dias de hoje. Foram criados laços afectivos muito fortes e que jamais se vão perder.

Também quero agradecer aos atletas com quem ainda mantenho contacto e para quem de alguma forma fui importante. Sem dúvida que eles foram muito importantes para mim! É com tremendo orgulho que sigo a evolução deles e os sucessos que têm alcançado.

“Sempre gostei muito de desporto”

- Gabinete de Imprensa do CNH: O que aconteceu antes desses 8 anos?

- Tiago Henriques: Fui nadador. Tenho 34 anos de idade e comecei aos 5 na Natação. Fui experimentar e gostei. Sempre experimentei muitos desportos. Durante a minha infância – como atleta federado – sempre pratiquei a Natação e o Futebol conjuntamente.

Fiz Ginástica no desporto escolar. Sempre gostei muito de desporto. Era daqueles rapazinhos que fazia tudo o que me dissessem para fazer. Acho que é o que falta aos miúdos de hoje. Eu cresci a brincar na rua. Brincava muito na rua a subir e descer árvores. Se eu chegasse a casa um dia em que não tivesse um joelho esfarrapado, a minha mãe punha-me a mão na cabeça a ver se eu tinha febre.

Eu tinha jeito para o desporto a nível geral. E mesmo depois na opção do desporto no Liceu, eu tinha jeito para todos os desportos colectivos. Onde as pessoas tinha mais dificuldade eu sobressaía, que era na Natação e na Ginástica.

Também me destacava nos desportos individuais, mas aí acho que tinha mesmo a ver com a minha motricidade. E se calhar com um bocadinho de loucura saudável, pois eu não tinha medo de nada.

 “Desde muito cedo que queria ser Treinador de Natação”

- Gabinete de Imprensa do CNH: A Natação foi sempre a grande paixão!

- Tiago Henriques: A aposta foi na Natação, mas desde muito cedo que a minha mãe me ouvia dizer que eu queria ser Treinador de Natação. Não acabei a Licenciatura em Educação Física. Entrei em Évora, mas entretanto a vida levou-me para Leiria. Ainda pedi transferência para lá, mas como comecei a trabalhar no Bairro dos Anjos, já não dava. Comecei por fazer substituições e como gostaram do meu trabalho, convidaram-me a ingressar no Clube no ano a seguir. Ofereceram-me um horário de 9 horas para começar. Passadas 3 semanas já estava com 25 e no ano a seguir propuseram-me contrato a tempo inteiro.

Fui fazendo formações na Federação e sempre tive a felicidade de fazer o que gosto, a tempo inteiro. E assim nunca acabei a Licenciatura, porque não é necessária. Mas um dia acabo isso nem que seja para dizer que tenho o canudo.

Houve sempre muita formação e continua a haver. Também dei umas aulas de grupo e acabei por ingressar na competição.

Na Natação fui campeão regional muitas vezes. Nunca tive ambição de ser atleta de alta competição, pois prezo muito a minha vida social.

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“Vim para ajudar o CNH. Já tenho experiência suficiente para consolidar o Clube a nível de conteúdo e forma de trabalhar”

“O ensino realiza-me muito!”

- Gabinete de Imprensa do CNH: O ensino é o mais importante?

- Tiago Henriques: O ensino realiza-me muito! Dá-me um gozo tremendo observar a evolução dos atletas ao longo do ano lectivo, do mais pequenino ao mais velho. Gosto muito! E gosto de trabalhar os pormenores e de lhes ensinar coisas diferentes. Dar umas dicas diferentes.

Eu sou muito rigoroso e exigente. Teimoso e obstinado. Não trabalho para mim mas para eles e estou sempre a dizer-lhes isso. Tenho muita confiança naquilo que faço. Acredito muito no que faço e na forma como faço e acabei por ter resultados. Trabalho sempre para os objectivos a longo prazo, que acho que é o importante.

Os nadadores do CNH estão no bom caminho e a aceitar o que lhes vou dizendo.

Há muitos treinadores que se calhar quando lerem isto vão crucificar-me, mas é muito raro eu fazer dois treinos iguais. Posso repetir tarefas ou séries mas é muito raro repetir exactamente a estrutura de um treino.

Acho que os atletas conseguem aprender de outra maneira. Nao é preciso ser tão repetitivo. Desde que o objectivo seja o mesmo, pode-se mudar um bocadinho.

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“Eles estão no bom caminho e a aceitar o que lhes vou dizendo”

- Gabinete de Imprensa do CNH: Os pais são uns grandes parceiros!

- Tiago Henriques: Os pais são uns bons parceiros e é bom sentir o apoio deles nas provas. Não me importo que assistam aos treinos desde que não interfiram, pois isso não é bom para os miúdos.

Eu também dou muito mimo e carinho aos filhos deles. Mas primeiro sou Treinador. Contudo, estou para o que os atletas precisarem. Posso fazer de padre ou de psicólogo e escutá-los, aconselhá-los. Desde que cá estou, já fiz de psicólogo e acho que aliviou a atleta naquele momento. Virem perturbados para o treino não é bom.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Veio para o CNH com que propósito?

- Tiago Henriques: Vim para ajudar o CNH. Já tenho experiência suficiente para consolidar o Clube a nível de conteúdo e forma de trabalhar. A estrutura organizativa foi o segredo do Bairro dos Anjos. Isso deu e continua a dar em grandes equipas de competição, tanto em quantidade como em qualidade e gostava de estabelecer isso aqui.

“Vai haver outra ligação entre as modalidades”

- Gabinete de Imprensa do CNH: No fim das provas há convívios?

- Tiago Henriques: Fomos jantar no final da primeira competição, que foi o Torneio Ilha Azul, e todos gostaram. Os Cadetes não foram, porque tinham compromissos.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Estão previstas actividades alternativas?

- Tiago Henriques: Quando o tempo estiver melhor, será possível organizar outras actividades que eu gostava de fazer, que era começarmos a treinar, ao sábado, na baía de Porto Pim. Em vez de estarmos sempre enfiados na Piscina da ESMA podemos treinar no mar. Gostava de fazer alguns treinos com a Vela e de proporcionar outra ligação entre as modalidades, partilhando e interligando estes dois desportos.

Temos trilhos espectaculares, que podiam ser feitos ao sábado. Não há necessidade de estarmos sempre dentro de água. Aliás, fazer actividades fora de água está a dar-lhes destreza, que é o que eles precisam, pois têm pouca noção do que o corpo pode fazer.

O montanhismo também é uma excelente opção, assim como estarmos em sítios complicados, “obrigando-os” a tomar decisões para ultrapassar obstáculos, pois muitas vezes ficam limitados.

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“Fazer actividades fora de água está a dar-lhes destreza, que é o que eles precisam”

 

“Um  nadador é um atleta especial”

- Gabinete de Imprensa do CNH: O que é um nadador?

- Tiago Henriques: É um atleta especial, porque treina muito tempo. Não é fácil passar horas a fio a contar azulejos, que é o que eles fazem.

No Atletismo, os desportistas também treinam muitas horas, mas a inter-acção humana é diferente. Um nadador é um solitário durante o treino, por isso é que o papel da equipa é muito importante. É fundamental que a equipa seja unida, o que se verifica no CNH. Acho que a Treinadora anterior trabalhou bem essa parte. Claro que há sempre um ou dois individualistas, mas também espero mudar isso.

É bom que eles percebam que toda a gente nalgum ponto da vida precisa de ajuda. Nós não podemos passar a vida a olhar só para o nosso umbigo. E gostava que eles entendessem isso.

Uma característica das gerações mais novas é o egoísmo. É o desenvolvimento tecnológico que os leva a estarem muito centrados no eu. Faz-me uma tremenda confusão estarmos sentados à mesa e eles estarem a conversar entre si com o telemóvel e a mandar mensagens uns para os outros. Aqui ainda não noto muito isso, felizmente.

A propósito, recordo que o Topê disse uma coisa engraçada: “Quando a tecnologia serve para complicar, não é avanço é retrocesso”. E eu concordo!

Toda a gente me enriquece um bocadinho. O facto de eu ter conhecido muita gente faz com que acabe por saber um pouco de cada coisa, já que cada um tem a sua área e é a conversar que conseguimos isso e não a mandar sms (mensagens).

- Gabinete de Imprensa do CNH: A família apoiou-o nesta decisão?

- Tiago Henriques: Já quando fui para o Algarve custou separar-me da família e amigos, mas agora custou muito mais! Tenho a felicidade de poder contar com duas grandes mulheres na minha vida: a minha mãe e a minha namorada, mais o Joãozinho, de 10 anos, filho da minha namorada.

A minha mãe foi muito importante na minha formação pessoal: passou-me excelentes valores. A minha postura de não desistir e de ir à luta foi herdada dela.  

A minha namorada é uma grande mulher! Por isso, há que valorizar muito o que tenho.

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“Quem está na Natação é porque gosta, senão não aguenta aquilo”

- Gabinete de Imprensa do CNH: A adaptação ao Faial tem sido fácil?

- Tiago Henriques: Sim! Não sou materialista. Aliás, sou adaptável. Os ‘feedback’s’ que tinha eram muitos bons. Falei com uma amiga minha do Continente, que me diz que a segunda casa dela é o Faial. É a pessoa que organiza “As 7 Maravilhas”, a Eva Mota. Somos do mesmo ano e amigos de infância. Soube que ela costuma vir cá, telefonei-lhe para saber como era isto e ela recomendou-me.

Foi uma reviravolta muito grande e muito em cima do joelho. Falei com dois treinadores mais velhos, com quem fui criando uma excelente relação de amizade ao longo do tempo. Um deles é o Bruno Dias, Seleccionador Nacional, que é uma pessoa por quem tenho uma grande estima e que me ajudou muito. Foi uma pessoa importante no meu percurso. Tal como o Rodrigo dos Pimpões. O Bruno era o Treinador da Benedita, que pertence ao distrito de Leiria; e o Rodrigo era o Treinador dos Pimpões, e nós tínhamos como norma em Leiria juntarmos os Treinadores na primeira terça-feira de cada mês para almoçarmos juntos. Foram pessoas com quem, além do João Paulo – o Treinador Principal do Bairro dos Anjos – acabei por ter uma relação maior, até por uma questão de identificação de ideias de trabalho e formas de trabalhar. Era uma experiência e uma boa oportundidade. Agora almoço com o Davide Castro, que também me recebeu muito bem.

“Era bom que houvesse mais Provas Regionais no Faial”

- Gabinete de Imprensa do CNH: O facto de os atletas treinarem num espaço exterior ao Clube dificulta uma ligação mais estreita ao Clube?

- Tiago Henriques: Penso que têm a noção do Clube que representam. O CNH é um clube enorme! Pequeno mas grande, como diz o nosso Presidente. Por isso, gostava que os atletas da Secção de Natação se envolvessem mais nas actividades do Clube para também o sentirem de outra maneira.

- Gabinete de Imprensa do CNH: A falta de competição no Faial não é um factor limitativo?

- Tiago Henriques: Sim, é um pouco estranho o facto de os nossos atletas competirem entre si. Foi um choque para mim, pois não tinha essa noção. Pensava que as provas se realizavam de forma rotativa em todos os clubes, mas já percebi que os atletas do Faial só têm oportunidade de competir em provas regionais.

O facto de os nadadores faialenses terem de competir contra si próprios ou contra os colegas de equipa com quem estão todos os dias, pode fazer com que não se superem em termos de auto-motivação e auto-estima. É uma questão delicada e uma experiência nova que vai fazer de mim melhor Treinador, já que vou ter que os motivar de outra maneira.

Temos de arranjar forma de os nadadores do CNH competirem em Lisboa, Coimbra, Leiria, etc, angariando apoios para isso. Esta é um proposta que pretendo apresentar à Direcção.

Também seria bom que o período das férias fosse mais curto. Eles estiveram parados três meses: Julho, Agosto e Setembro. É muito tempo! Em Leiria, férias é só em Agosto.

- Gabinete de Imprensa do CNH: Neste cenário, o que os move?

- Tiago Henriques: Quem está na Natação é porque gosta. Daí sermos poucos. Têm de gostar, senão ninguém aguenta aquilo!

- Gabinete de Imprensa do CNH: O que achou da Piscina da Escola Secundária?

- Tiago Henriques: Dispomos de condições excelentes! Não conheço escola alguma no Continente que tenha piscina sem ser os colégios privados. Aliás, dizem que a Piscina da Escola Secundária Manuel de Arriaga (ESMA), da Horta, é a melhor dos Açores! Mais uma razão para não perceber porque não se fazem cá mais provas.

Uma boa forma de promover a modalidade é termos competições importantes na Terra. É importante para a visibilidada da modalidade.

Para já, vamos ter uma Prova Regional de Cadetes no Faial, no mês de Março, mas gostava que tivessemos aqui uma Prova Regional de Absolutos até, porque, a piscina onde se compete em São Miguel só tem 6 pistas, o que significa que as sessões são mais longas. São menos duas pessoas a nadar em cada série comparativamente com o que acontece no Faial.

É sempre benéfico os atletas passarem menos tempo na piscina. O ambiente é mais pesado, cansa mais, satura mais. Ficam mais moles. Quanto mais curtas forem as sessões, melhor.

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“Dizem que a Piscina da Escola Secundária Manuel de Arriaga (ESMA), da Horta, é a melhor dos Açores!”

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