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“A Figura do Mês” - Norberto Serpa: “Amadores e profissionais começam é pelo Clube Naval da Horta”
Norberto Serpa, internacionalmente conhecido pelo nome da sua empresa (“Norberto Diver”), começou a sua relação com o mar ainda miúdo. “Desde criança, sempre fui um apaixonado pelo mar. Está no meu coração. Sempre trabalhei e mantive uma relação muito especial com o mar. Com 5 anos comecei a falar de barcos e a fazer perguntas a minha mãe sobre coisas relacionadas com o mar.
Meu pai era meio pescador meio agricultor mas um dos meus avós era mesmo pescador e eu herdei esse gosto e acho que vou morrer ligado ao mar”.
No Pico, de onde é natural, era pescador, e no Faial, para onde veio estudar e se radicou, foi técnico do Departamento de Oceanografia e Pescas (DOP) da Universidade dos Açores, sedeado na cidade da Horta.
“Aos 15 anos vim viver para o Faial, com uma irmã, a fim de ambos estudarmos mas eu andava sempre metido com os “aventureiros” na doca, a falar com eles e a pedir bolachas e outras coisas que os putos costumam fazer”.
Com 24 anos surgiu a oportunidade de trabalhar no DOP e aquilo que parecia ser uma experiência de 6 meses prolongou-se por anos, fazendo com que o Pico passasse a ser encarado como local de férias. “Comecei por trabalhar como tarefeiro num barco norueguês que veio ao Faial. Precisavam de um técnico e a partir daí fui embarcando de navio em navio, o que acabou por ser a minha vida durante largos anos.
No DOP fazia de tudo. Até parti pedra! Trabalhava em cimento, em ferro, soldava, moldava, pintava, mergulhava, pescava, fazia tudo o que eles queriam. Até fiz, com a minha mão, a casinha onde guardava o meu primeiro compressor.
“A minha empresa caminhou, porque eu trabalho muito!”
Sempre tive um toquezinho de pirata e aventureiro e nunca me dediquei a uma actividade em exclusivo. Quando me instalei no Faial, vivia cá um primo meu que era Polícia de Segurança Pública e tinha um barquinho de pesca, e lá fazíamos as nossas pescarias, o que nos rendia uns trocados.
Varava os barcos das fábricas no Faial e no Pico. Como mergulhador, andava sempre por aí”.
No decorrer dos primeiros anos de serviço no DOP, Norberto tirou o Curso de Mergulhador Amador, no Faial, com o sr. Albuquerque, mas passado pouco tempo teve de se especializar naquilo que já fazia e, como tal, foi necessário tirar o Curso de Mergulhador Profissional, atendendo a que era regularmente solicitado pela então Junta Autónoma dos Portos da Horta (JAPH) e por barcos científicos que passavam pelo Faial. O Curso foi tirado na Base do Alfeite, no Continente português, uma vez que só a Marinha é que estava certificada para tal.
Posteriormente, o filho do nosso entrevistado tirou o mesmo curso mas em Espanha, o que tem acontecido com outras pessoas.
Acostumado a tocar em várias teclas ao mesmo tempo, Norberto, este homem dos sete ofícios (ou talvez mais!), não se contentou com o DOP e decidiu criar a sua própria empresa, o que é uma realidade há mais de 20 anos.
“Sempre tive uma cena extra e esta coisa de a empresa se chamar “Norberto Diver” tem uma história. Há 30 anos e mais até, não havia Centros de Mergulho nem empresas a trabalhar com os turistas; eram os clubes navais que tinham o compressor. Veio ao Faial um jornalista francês, que trabalhava numa revista, com o intuito de fazer uma reportagem e, através do Clube Naval da Horta (CNH), indicaram o meu nome. Fui apresentado a ele como um “‘expert’ em mergulho, o rapaz que trabalha no DOP e anda sempre por aqui”. Eu andava a estudar mas acabei por ir trabalhar com esse jornalista que veio no mês de Abril. Lembro-me que durante toda essa semana fez um tempo péssimo e a solução foi ir todos os dias para trás da doca, junto ao Monte da Guia, local onde ele fez a reportagem. E então eu era o “Norberto, o diverrr... Norberto, o diverrrr”. E quando vinha outro estrangeiro era a mesma história e eu decidi que esse seria o nome da minha empresa”.
O primeiro Centro de Mergulho na Horta para trabalhar com turistas era um depósito de bagagem da antiga Gare Marítima, onde Norberto Serpa instalou um compressor, que funcionava como base de um francês, que tinha um barco de borracha e esteve aqui durante alguns anos. Posteriormente, foi lhe concedido um contentor, o que se mantém até hoje.
Mesmo sendo empresário, Norberto manteve-se ligado ao DOP, o que só deixou de ser uma realidade desde há 5 anos. “A minha empresa caminhou, porque eu trabalho muito! Lutei muito pelos meus princípios, que se resumem a viver muito mas de forma muito pobre mesmo”.
Este faialense por opção mas picoense de nascimento não esquece as suas origens e os sacrifícios feitos para chegar até aqui.
“Éramos 8 a viver em 2 quartinhos e 1 cozinha, sem água nem luz, sendo tudo feito com lenha. Não passávamos fome, pois havia fartura de batatas, inhames, milho e peixe. Meu pai ia pescar e trazia o peixe todo para casa.
A nossa subsistência era garantida pela venda das rendas feitas por minha mãe e minhas irmãs e pelo negociozito que meu pai tinha, relacionado com o processo de curtir peles de vaca, que preparava durante a semana para ir vender ao domingo”.
“Sempre tive um toquezinho de pirata e aventureiro e nunca me dediquei a uma actividade em exclusivo”
Mas “A Figura do Mês” de Julho confessa que tinha o sonho de sair da ilha e viajar, conhecendo outros mundos. E desses mundos vêm amigos – novos e antigos – que deixam lembranças.
“Oferecem-me imensas, imensas t-shirt’s e inúmeras garrafas de vinho e outras bebidas. Tenho uma garrafeira preenchida e um guarda-roupa lotado de ‘t’shirt’s’. Ando sempre muito roto, porque há umas ‘t-shirt’s’ pelas quais vou tomando muito gosto e não quero desfazer-me delas. Não me oferecem bonés, porque me vêem sempre com a bandana, que segura o cabelo comprido”.
E quando se pergunta como começou esta imagem de marca – que o nosso entrevistado prefere apenas classificar como “é uma imagem” – explica: “Certa vez encontrei no “Peter” um espanhol, que na altura já estava cego mas tinha sido um grande velejador e comandante com feitos para contar, que se fazia acompanhar de uma jornalista. Reparei que tinha barbas brancas, cabelo comprido e usava bandana. E pensei: “Quem me dera um dia chegar à idade deste velhote e ainda ser assim, senhor de um estilo como este”. E aí começou a cena da bandana!”
“Ninguém tem uma equipa melhor do que a minha”
“Trabalho muito com o coração e sinto-me muito feliz com a minha empresa e com a minha equipa”
Observação de baleias, natação com golfinhos, viagens de barco privadas e mergulho costeiro com tubarões no banco “Princesa Alice”, são actividades possíveis de realizar com a empresa “Norberto Diver”, criada em 1996, e que possui uma frota de 7 barcos.
“Comecei com o mergulho e depois passei para as baleias e golfinhos. Fui o primeiro a pôr o meu contentor junto ao CNH, onde só havia ferro velho. Mas para isso, tive de me livrar de um barco antigo que aqui se encontrava. O engenheiro Ângelo Andrade, ao tempo Director da Junta Autónoma dos Portos, disse-me que eu poderia ficar com aquele espaço desde que conseguisse remover dali a chalupa do Clube Naval. E isso deu-me um trabalhão, porque o proprietário encontrava-se em parte incerta. Mas como eu conhecia o pai do dono, através deste consegui chegar ao filho. Na sequência disso, passei o barco para o meu nome, desmantelei-o, carreguei o ferro velho num camião e coloquei lá o meu contentor.
Antes, eu guardava o meu material era no depósito de bagagem, na gare marítima. E então, eu era depositário de bagagem e tinha o meu Centro de Mergulho naquele cantinho junto ao CNH. Só mais tarde é que me aproximei mais do Clube e a empresa foi crescendo.
Volvido 1 ano ou 2, o “Peter” também criou a sua empresa de baleias. Éramos nós os dois. Com o passar do tempo, a minha actividade foi crescendo em movimento e número de barcos e outras empresas surgiram no mercado, as quais tiveram a vida facilitada com o aparecimento da ‘net’”.
A “Norberto Diver” oferece experiências inesquecíveis acima ou debaixo do mar
Norberto continua a trabalhar, sobretudo numa rede de contactos passados por familiares, amigos e conhecidos. E aposta na qualidade. Por isso, em vez de sair com um barco com 14 pessoas, prefere ir num ‘charter’ alugado por uma familia – um casal e um filho, por exemplo – em que o lucro é o mesmo com a vantagem de poder dar mais atenção aos seus clientes e de ter um menor consumo de combustível. “Trabalho muito com conhecidos e com famílias que têm crianças”.
Muitas televisões e fotógrafos consagrados vêm até ao Faial, porque ouviram falar deste “homem-tubarão”, como também é conhecido. Por isso, afirma: “Continuo a ser um romântico. Trabalho muito com o coração e sinto-me muito feliz com a minha empresa e com a minha equipa. Posso dizer que é a melhor equipa do mundo! Ninguém tem uma equipa melhor do que a minha”.
E dessa “excelente” equipa, composta por 15 pessoas, fazem parte: Gonçalo Serpa e Jairo Sousa (‘Skipper’s e Dive Master’s); Carlos Silva (Vigia); Lisa Steiner (Bióloga Marinha); Alba Iglesia, Marco Medeiros e José Carvalho (Skipper’s e Dive Master’s); Sophia Fontes (Pront Office e Técnica de Turismo) e Raquel Aguiar (Pront Office e Bióloga Marinha).
“Não trocava a minha vida por nada!"
“Tenho muita gente que anda no mar e que passou pela minha empresa e um aspecto muito positivo é que continuam a ser meus amigos. Grandes amigos!”
Este amante do mar, com mais de 30 anos de contacto com a vida marinha, tem “muitos” fãs e podemos mesmo dizer que já faz parte da paisagem do porto da Horta. “Ninguém imagina a quantidade de pessoas que conheci neste porto. Via-os crianças e hoje são comandantes ou exercem outras profissões relacionadas com o mar.
A qualquer sítio que eu vá – Nicarágua, Panamá, Colômbia, Caraíbas, etc – estou sempre a dar de caras com alguém conhecido. E essas relações nasceram, porque eu fui solicitado para ir tirar o cabo da hélice de um mega-iate que vem por aí abaixo e me convida para ir beber uma cerveja com eles ou porque fui mergulhar com um grupo daqui ou dali. E um oferece-me um pacote de tabaco, outro um ‘pack’ de uísque e por aí fora.
“São poucas as pessoas no mundo que encontram um trabalho em que se divirtam e tenham prazer”
São incontáveis os mergulhos que eu dou neste porto por uma ou outra razão, o que acontece diariamente. E a quantidade de barcos que me vem pedir informações sobre o melho sítio para atracar, é impressionante!
Como tenho amigos por todo o mundo, é impossível fixá-los. Por isso, são eles que vêm ter comigo e quando me vêem fazem uma grande festa. É por isso que digo: sinto-me muito feliz e não me importo nada de continuar a fazer este trabalho. Não trocava a minha vida por nada! Do fundo do coração: se eu voltasse a ser um menino não me importava nada de levar a vida que levei até hoje. Trabalho muito mas dá-me muito prazer fazer o que faço. São poucas as pessoas no mundo que encontram um trabalho em que se divirtam e tenham prazer. Muitas vezes estou ali no meu barco, cheio de gente, e dou comigo a pensar: “E ainda me estão a pagar para eu ver esta beleza? Fantástico!” Eu divirto-me, às vezes, muito mais do que os clientes.
Mas isto também não é só boa vida. O mais difícil é pôr a máquina a funcionar, rectificando avarias, fazendo manutenções, etc. São aquelas coisas que eu faço ou tenho de mandar fazer. Mas o meu pessoal vai sempre comigo e faz de tudo, incluindo trabalhar na terra. Os primeiros começam mesmo por cultivar batatas e cebolinhos. E quando é preciso vão para o armazém ou para o Pico pintar portas, portadas, janelas ou a adega, nos dias vagos, ou seja, quando não há clientes. Aliás, já quando são admitidos é com a condição de serem polivalentes, porque eu também sou. Eu estou ao lado deles em tudo. Não sou um patrão que aparece apenas para vir receber o dinheiro e gerir isto. Eu sou o primeiro em tudo”.
“Tenho o sonho de dar a volta ao Mundo”
Norberto Serpa, ou Diver, funciona como um bom embaixador do Faial no mundo. “Tenho uma paixão enorme pelos Açores e para todo o lado onde vou, falo destas ilhas. Uma das recordações que deixo sempre – nos espaços que me marcaram durante a minha estada – para além do rasto como pessoa, é uma bandeirinha do Arquipélago. Encontro pessoas, faço amizades, divirto-me. Gosto de visitar os sítios e por vezes quando é para me vir embora tenho dificuldade. Vou por 3/4 dias e acabo por ficar 15 dias ou 3 semanas e quando saio de lá é num clima de grande festa. Tenho facilidade em fazer amigos.
Já atravessei 5 vezes o Atlântico e tenho o sonho de dar a volta ao Mundo. Mas vou andando devagarinho. Sei que vou passar 3 ou 4 anos no Pacífico”.
“Actualmente os tubarões são cada vez mais escassos”
“Apercebi-me do impacto altamente negativo que os Açores têm pelo mundo devido às descargas dos barcos espanhóis no porto da Horta”
O mergulho com tubarões começou há 15 anos, altura em que havia “um entusiasmo grande” devido ao número abundante destes animais. “Mas actualmente os tubarões são cada vez mais escassos, porque são caçados desalmadamente pelos espanhóis. Sei que eles estão a pescar fora das 200 milhas e acredito que seja de forma legal mas as descargas semanais que acontecem no porto da Horta dão uma imagem muito negativa dos Açores e sobretudo do Faial.
Quando fui este ano à maior feira de mergulho da Europa e uma das maiores a nível mundial, realizada em Dusseldorf, na Alemanha, apercebi-me do impacto altamente negativo que os Açores têm pelo mundo devido às descargas dos barcos espanhóis. Estamos a sofrer uma quebra muito grande! Quando começámos no mergulho com tubarões, era normal ao fim de 30/60 minutos termos 7, 8, 9, 10,12 tubarões à nossa volta e agora para vermos 1, 2, 3 é uma complicação. É preciso estarmos 3 ou 4 horas no mar a meter sardinhas. Há dias em que não se vê um mas antes era uma actividade com um sucesso de quase 100 por cento.
“No que diz respeito às baleias, há uma grande preocupação actualmente, porque os japoneses vão voltar a caçá-las”
Os espanhóis pescam muito e tudo o que pescam é do ‘stock’ do Atlântico que se movimenta nos Açores e quanto mais apanharem menos os avistamos cá.
Relativamente às baleias e golfinhos, o ‘stock’ mantém-se. Mas já no que diz respeito às baleias, há uma grande preocupação actualmente, porque os japoneses vão voltar a caçá-las. Não vai ser minimamente rentável. A sub-exploração vai ser tão forte que já não vão ter nada para apanhar. Contudo, a espécie não vai extinguir-se. É como o planeta, também não vai extinguir-se. Nós é que vamos ir à vida. É urgente adoptarmos medidas se quisermos que isto se mantenha saudável ainda por mais algum tempo. Mas estão todos agarrados ao deus do ouro. O dinheiro é que domina e fazem-se guerras gigantes em nome dos interesses económicos, que podem, fatalmente, destruir o ecossistema todo, neste caso o mar.
“O ‘stock de golfinhos mantém-se”
Está tudo a modificar-se. Até o cheiro característico do mar, com que eu fui criado, desapareceu, assim como o da maior parte das baías que era tão habitual com a maré baixa e a quantidade de lapas e aquele rabão... As nossas algas já deram origem a outros tipos de algas que se foram desenvolvendo. O sedimento que se foi acumulando no fundo é um pó e já não há aquela visibilidade tão transparente como antigamente.
Há pessoas que estão muito sensibilizadas para a questão ambiental mas outras ainda estão muito longe”.
“Os Açores estão 50 anos à frente nos cuidados com o planeta”
Nas viagens que faz, este lobo do mar evidencia as suas preocupações com a destruição do meio ambiente e partilha algumas nesta entrevista.
“Garantidamente, neste momento os Açores estão 50 anos à frente de muitos dos sítios que tenho conhecido no que diz respeito aos cuidados com o planeta. Pelo que tenho visto, parece que as pessoas não gostam da sua terra.
Por vezes, deixo o meu barco no Panamá e numa das minhas viagens andei por ali em Porto Lindo e Porto Belo, que já conhecia mas parei para ir cumprimentar uns amigos. Porto Belo é uma Cidade Património Mundial da UNESCO, com uma enseada linda e aqueles castelos antigos, com uma grande casa onde os espanhóis guardavam as suas fortunas para serem transportadas para a Europa. A cidade foi restaurada nos anos 90, o que representou um grande investimento. Ao lado do castelo convivem as casinhas sobranceiras ao mar e, curiosamente, é mesmo nessa zona que atiram o lixo por umas ribanceiras abaixo, o qual vai direito ao mar. Tirei umas fotografias e vou fazer uma pequena exposição em Setembro – na sequência de um convite recebido – a propósito dessa vergonha.
“Há pessoas que estão muito sensibilizadas para a questão ambiental mas outras ainda estão muito longe”
Na minha opinião, a sociedade deveria unir-se e através de grupos de jovens ou de outras organizações podiam limpar esse lixo e instalar caixotes para as pessoas depositarem os detritos. Essa campanha educacional deveria funcionar no terreno, de forma permanente ao longo de pelo menos 1 ano, no sentido de educar as pessoas para as boas práticas no que toca ao lixo.
Uma lixeira a céu aberto lá no interior do sítio é mau mas sabemos que aquele lixo um dia iria ser trabalhado mas atirá-lo, num sítio daqueles, directamente para o mar, revela mesmo falta de civismo. E aqui o problema atinge proporções gigantescas se tivermos em conta que esses actos irreflectidos têm consequências nefastas também para nós, pois, como recebemos uma grande influência das correntes do Golfo e do mar das Caraíbas, com a corrente isso vem tudo parar aos Açores. O grande plástico, com a acção das marés e dos embates na costa, vai-se desfazendo e chega cá em pequeno plástico. Basta ir à Praia de Porto Pim para vermos a quantidade de micro-plásticos, pequenas partículas, à superfície. Vem muito lixo das Caraíbas parar aos Açores, assim como do Panamá, República Dominicana, Haiti, Cuba e todos os países por ali e então nos mais pobres ainda pior, se bem que nas praias das ilhas onde estão os ‘resorts’ e são recebidos os grandes magnatas, a calamidade seja igualmente assustadora”.
“O CNH é o único local nesta ilha onde uma criança pode pegar no leme e começar a velejar”
“Quero deixar o espaço em que vivo melhor do que o encontrei”
Norberto Serpa, Sócio do CNH há mais de 20 anos, tem uma relação “antiga e especial” com esta “casa”. “Desde que cheguei ao Faial sempre precisei do Clube Naval e ele de mim. Manifestei total disponibilidade todas as vezes que me pediram alguma coisa. Todos os presidentes desta instituição podem dizer que nunca me pediram algo em que eu não tenha sido útil, desde emprestar barcos e a minha logística ou eu próprio, que já fui tanta vez retirar coisas do Clube que caíram ao mar. Recordo-me particularmente da vez em que fui à ponta da doca buscar o pau das bandeiras que tinha ficado lá.
Ainda muito recentemente quiseram movimentar o barco e foram ao meu carro buscar a chave. Às vezes quando vou para o mar deixo o meu carro aberto com a chave lá dentro. Aliás, o meu carro nunca é fechado e tem sempre as chaves dentro, o que é um dos meus orgulhos nesta Terra.
Para mim, o CNH é a única escola que temos no Faial para amadores e para profissionais. Naturalmente que os profissionais muitas vezes acabam por dispersar-se por outras escolas e por outros sítios. Mas é por aqui que começam. É o único local nesta ilha onde uma criança pode pegar no leme e começar a velejar, porque da Vela para o motor é muito fácil. Ao contrário é que é difícil. Eu comecei muito mais tarde na Vela e sinto que se tivesse sido mais cedo era muito mais perspicaz e tinha muito mais conhecimento do que tenho hoje, inclusivamente no que toca a manobrar o barco. Claro que agora já naveguei muito e conheço bem o meu barco mas uma coisa é iniciar uma actividade com 30 ou 40 anos e outra é em criança.
Defendo que deveria ser dada uma prioridade muito grande no sentido de haver bons monitores. Não vou dizer que o Clube não tem alguns que são bons mas poderia ter mais pessoas a lutar para as coisas evoluirem.
Quase todos os ‘skipper’s’ que tive até hoje são pessoas que passaram primeiro pelo Clube Naval da Horta. E foi aqui que vim buscá-los. Começava a observá-los na Vela e dizia: “Aquele puto vai dar!” E isso aconteceu com o Luís Mota, o Guedes, o “Foca” (Marco Medeiros, o eterno “Foca”, que trabalha para mim há mais de 20 anos), o Michael, o Laranjo, o Nuno Santos. O que eles sabem, aprenderam foi no CNH.
Deveria haver uma carrinha para ir buscar e pôr as crianças do campo
O CNH não é da cidade e não tendo culpa, a verdade é que não chega a toda a ilha. As crianças do campo não são contempladas, porque ao sairem da escola têm de ir para casa logo a seguir, caso contrário não têm transporte. Tal como acontece com o futebol e outros desportos, também deveria haver uma carrinha para ir buscar e pôr as crianças que estivessem interessadas em aprender Vela, Natação, Canoagem, etc. Nem que fosse durante o Verão. Por isso, há muitos que nas férias ficam com os avós, não tendo a oportundidade de beneficiar dos vários projectos disponibilizados pelo CNH.
Há pais que me dizem: “Quem me dera ter o meu filho no Clube Naval mas não me dá jeito, pois moro na Praia do Norte, nos Cedros, no Salão”. Mas estas pessoas também fazem parte da ilha do Faial e não têm as mesmas oportunidades que os da cidade e arredores. E ainda por cima, o Clube Naval da Horta fica nas portas do centro da Europa, por onde passa muita gente que também gostaria que as suas crianças pudessem usufruir daquilo que esta instituição tem para oferecer. Era importante haver programas para quem fica 1 ou 2 meses no Faial. Tenho vários pais a perguntar: “A gente pode alugar um barco? A gente pode ir para o CNH? Posso deixar os miúdos lá?”
As nossas actividades dependem muito do Clube Naval da Horta
Claro que tratando-se do único sítio no Faial capaz de formar crianças e jovens – e mesmo adultos – no plano náutico, o Governo deveria ter muito mais respeito pelo CNH, para não falar das regatas e das possibilidades que esta instituição tem de organizar eventos. Acho que deveria ser muito mais valorizado.
O Clube Naval da Horta merece um espaço maior. Olhando para a sede, qualquer pessoa minimamente discreta vê ferro a aparecer, o que significa que o edifício está a degradar-se. E eu sei que isso pode ser reparado.
Os espaços de acesso ao mar poderiam ser muito mas muito melhorados. E quando me perguntaste se a barraca onde trabalho estava demasiado pequena para a minha actividade, eu respondo assim: “Preferia que se fizesse um clube naval como deve ser ao mesmo tempo que se fazem as instalações para as empresas marítimo-turísticas. Deveria estar tudo incluído, porque as nossas actividades dependem muito do Clube Naval da Horta.
“Quase todos os ‘skipper’s’ que tive até hoje são pessoas que passaram primeiro pelo CNH”
Tenho de dar os parabéns e de louvar as pessoas que integram os Corpos Sociais do Clube Naval da Horta. É gente que trabalha horas e horas por carolice, por gostar e por ter o mesmo sentimento e coração que eu tenho. Vejo o esforço e a dedicação. E há muita gente que está cá e tem possibilidades de ir para outros sítios e ganhar muito dinheiro e de certeza que não é aqui que vão ficar ricas. Se essas pessoas estão aqui, é porque gostam de ver a sua Terra evoluir e também pensam como eu: quero deixar o espaço em que vivo melhor do que o encontrei.
Já me disseram: “Tu havias era de ser presidente do CNH. Acho que a partir dos 80 anos vou pensar seriamente nisso mas até lá continuo a fazer aquilo que sempre fiz”.
Fotografias cedidas por: Norberto Serpa
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