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Mariana Luís, Monitora de Vela no CNH: “A experiência adquirida este ano valeu mais do que estar na universidade”

Mariana Luís, enquanto velejadora do Clube Naval da Horta (CNH) marcou pontos, que é como quem diz, ganhou títulos, provou que a Vela também se conjuga no feminino e que elas podem chegar onde eles chegam ou até mais longe, fez amizades para a vida e guarda a palete dos bons momentos na mente e no coração.

Em 2018, pensou-se que era a sua despedida rumo a outros voos (estudos superiores) mas a especificidade pretendida num futuro profissional levou-a a optar por ficar mais um ano em “casa”, que é como quem diz no Faial. E para esta velejadora de alma e coração, quando se fala em “casa” está implícito o Clube Naval da Horta, que jamais esquecerá, aconteça o que acontecer.

Por isso, a menina da Vela do CNH aceitou o desafio de ser Monitora, superando-se a si própria nos meses em que teve de substituir o (seu antigo) Treinador, Duarte Araújo, Coordenador da Escola de Vela do CNH que, por motivos de saúde, não pôde estar tão presente fisicamente durante este último ano.

“Os velejadores ensinaram-me a ter paciência e a saber ensinar!”

mariana luis 2 2019

“Gostei e sinceramente não descarto a hipótese de um dia vir a ser treinadora”

Esta missão “aliciante” mas de “grande responsabilidade” aconteceu desde Setembro até a este mês e foi uma experiência enriquecedora, que valeu mais do que qualquer semestre universitário.

“Há 5 anos – desde os 14 – que vinha sendo Monitora na “Vela Espectacular”, que acontece durante um mês (entre Junho e Julho) mas ser Monitora da Escola de Vela do CNH a tempo inteiro, foi algo completamente novo e diferente. Trabalhar com 20/25 miúdos no Verão não tem nada a ver com o acompanhamento que fiz durante este último ano lectivo. E digo isto, porque no Inverno temos um tempo mais cinzento do que no Verão, e ainda que nesta altura esteja vento, os velejadores encaram isso de outra forma. O escuro do Inverno assusta-os mais no mar. Trabalhar com eles foi uma maneira de eu também evoluir, porque ensinaram-me muito! É algo de extraordinário, já que eu não pensava que ia aprender mas sim apenas ensinar e enganei-me redondamente. Nas primeiras semanas apercebi-me logo disso”.

E quando se pergunta a Mariana Luís, o que lhe ensinaram estas crianças e adolescentes – entre os 7 e os 12 anos – atira de imediato: “A ter paciência e a saber ensinar! Foi importante lembrar-me que já tive a idade deles e tive de transmitir o que aprendi nessa altura. Foi preciso ter a capacidade de voltar atrás e explicar o que aprendi mas usando a linguagem deles. A cabeça e a carga emocional destes velejadores é totalmente diferente da de um adulto. Tive de aprender a conhecê-los para saber lidar com eles e com o que ia sucedendo, desde o que chora de 5 em 5 minutos, passando pelo que está irritado ou transtornado até ao que acha que sabe tudo. Esta foi, sem dúvida, uma aprendizagem muito diferente para mim! A “Vela Espectacular” é uma actividade cheia de vida, porque acontece no Verão. Mas os treinos de Vela são diários, regulares e durante vários meses.

“Precisamos de ter alguém de confiança para nos apoiar”

mariana luis 3 2019

“Tive de aprender a conhecê-los para saber lidar com eles”

Ter contado, nos últimos meses, com o apoio de pessoas da minha idade, como foi o caso do Ricardo Silveira – ex-velejador do CNH, que se encontra a estudar no Continente português – foi muito bom, pois tínhamos a mesma harmonia e houve um grande equilíbrio entre nós os dois. Ele ajudou-me quando tive de ficar com as Turmas do Duarte (Pré-Competição e Competição).

Quando comecei a dar aulas de Vela em Setembro passado – Turma de Iniciação – contava com o Duarte e essa foi mesmo a condição imposta por mim. Mas depois, o cenário alterou-se e eu percebi que, sendo necessário, afinal conseguia levar o barco a bom porto. Ganhei confiança em mim própria e lá segui mas confesso que sozinha isto não funciona. Precisamos de ter alguém mas alguém de confiança para nos apoiar e não uma pessoa qualquer e consegui isso com o Ricardo (desde Maio).

“Gostava de fazer uma missão humanitária”

mariana luis 4 2019

“A Vela e o CNH estarão sempre presentes na minha vida”

Este percurso permitiu a Mariana ter a visão do que poderia ser uma carreira como treinadora. “Gostei e sinceramente não descarto a hipótese de um dia vir a ser treinadora. É mesmo o meu plano B. Se não conseguir entrar na Marinha ou se o que aí vem não for aquilo que eu espero, o Curso de Treinadora vai ser sempre uma opção”.

Esta ex-velejadora do Clube Naval da Horta pretende ingressar na Marinha, o que lhe permite vários caminhos profissionais no mar e em terra, podendo trabalhar nas capitanias, comandar um navio, etc. E revela que gostaria de fazer missões que “visem o bem universal” ou que possam contribuir para melhorar a vida dos mais desfavorecidos, como é o caso dos refugiados. “Não me importava nada de fazer uma missão humanitária dessas. Acho que, com a experiência que tive este ano, tenho as aptidões mínimas para lidar com esse tipo de situações”. Aliás, este ano lectivo também é visto como um contributo no acesso ao ensino superior se tivermos em conta que a Psicologia é uma nota de peso.

O Curso de 5 anos – com Mestrado integrado – abre muitas portas e Mariana pretende que os primeiros anos no mundo laboral sejam num local que possa ganhar traquejo. Por isso, trabalhar na sua terra não é, para já, uma prioridade embora faça parte das eventuais hipóteses. “Primeiro quero conhecer o mundo marítimo e o mundo em si e depois pensarei em regressar”.

“Este foi um ano de acréscimo na minha vida”

Poderemos ser levados a pensar que este compasso de um ano na vida de Mariana Luís ficou de fora da contagem numa perspectiva futura mas ela garante que foi precisamente ao contrário!

“Este foi um ano de acréscimo na minha vida! Sinto que ganhei muito mais do que ter ido para um qualquer curso numa faculdade, porque quando faço a comparação entre mim e outros colegas que foram para a universidade este ano, reparo que tenho outros valores. Acho que ganhei maturidade para ter um melhor desempenho no ano lectivo que aí vem. Se não tivesse ficado cá este ano teria perdido a oportunidade única de conhecer e lidar com estes miúdos espectaculares, que me ensinaram imenso. Portanto, ter ficado só representou mais-valias.

Este ano registei um crescimento exponencial. Quero repetir esta experiência e não me importo nada de esta ser a minha vida mas não para já. Daqui a alguns anos. Há coisas que quero fazer e tem de ser agora. Ser treinadora pode ser mais tarde”.

Mariana Luís é a prova de que o Clube Naval da Horta continua a ser uma referência tanto para as gerações mais antigas como para as actuais, funcionando como uma Escola de aprendizagem de desportos náuticos, de valores, de conhecimentos, ajudando a traçar o futuro.

“O Duarte mostrou-se uma pessoa super-tudo!”

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Foi a carreira na modalidade da Vela, iniciada ainda muito criança, que incutiu nesta jovem o desejo de ingressar na Marinha. Por isso, afiança: “O Clube vai estar sempre presente e continua a ser importante na minha vida e sem dúvida que a Vela é que tem a culpa disto tudo”. A Vela e o Duarte Araújo, acrescentamos nós, já que a relação que foi sendo construída ao longo de várias épocas, entre este treinador e a sua atleta, chegou a um patamar de profunda amizade, grande confiança e sólida continuidade. “Nunca pensei vir a gostar do Duarte, pois quando o vi, a minha reacção inicial foi: “Não te conheço, não te vou dar confiança, não nada!” Mas depois ele mostrou-se uma pessoa super-tudo e ganhei um amigo, com mais de 20 anos de diferença mas o que prevalece é a mentalidade jovem dele. E, sinceramente, nunca pensei vir a substituí-lo!”

Depois de alguma insistência, Mariana confessa o que todos nós já percebemos há muito: “Ele diz-me que confia em mim e também me sinto contente por isso”.

“No CNH fiz amigos e família, que jamais vou esquecer”

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“O CNH é uma segunda casa”

Mas é claro que as saudades vão pesar! “Vou ter saudades de tudo! Do Duarte, dos amigos, da família, do Clube!... O CNH é uma segunda casa. Aqui, fiz amigos e família, que vou manter para sempre. E aproveito esta oportunidade para agradecer o magnífico ano que tive e quando vier de férias o Clube será ponto de passagem obrigatória”.

Mariana garante que “o Clube Naval da Horta tem atletas com potencial” e fica “muito agradada” por ver que “o número de velejadoras tem vindo a aumentar significativamente”. “Eu sempre quis estar onde os rapazes estavam, porque sempre me considerei igual a eles. Posso ser igual em termos de resultados mas também posso ser melhor velejadora e melhor pessoa, graças também à Vela, que é um desporto que nos ajuda a inter-agir e a crescer”.

Para esta defensora convicta da capacidade feminina, “tanto a Vela como a Marinha devem ser vistos como mundos também pertencentes às mulheres”. E realça: “Do meu mundo da Vela trago esta ideia comigo desde miúda, do tempo das regatas e das competições. Somos todos seres humanos, com diferenças é certo, mas o que interessa é a nossa capacidade. Falamos de pessoas e não de géneros”. 

Na Marinha, a Vela vai continuar a ser uma realidade, atendendo a que é condição obrigatória a prática de um desporto. “E só poderia ser a Vela, porque sou uma mulher da Vela”.

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